sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Segredos Revelados (Spotlight, 2015)

Após um longo período sem postagens e a pedido de uma amiga, eis que volto a fazer crítica de filmes neste blog. E para comentar um filme concorrente ao Oscar, já que esse período pré-premiação é um período bom pra sentar na sala de cinema/de casa e ver um filme indicado. Apesar das polêmicas envolvendo a premiação (inclusive a deste ano, com zero diversidade nas indicações), os filmes indicados em geral têm muita qualidade.

Cartaz de Spotlight
Spotlight, ou Segredos Revelados, em português, é um filme que surpreende gradativamente e pela fluidez do roteiro, direção, atuação e continuidade se torna um filme fantástico ao espectador. Por isso, provavelmente, não foi uma surpresa sua indicação para melhor filme. O longa tem um tema "duro" para o cinema e para quem está acostumado com ritmo rápido, efeitos visuais ou uma história com final dantesco, o filme deixa a desejar. Porém, para quem gosta de filmes investigativos, jornalísticos e realistas, cuja história se revela aos poucos, o filme é primoroso. Primeiro porque ele se passa em 2001, em uma época em que o jornalismo era feito de forma diferente. Não havia grandes redes sociais e os jornais ainda eram comprados em bancas ou por assinaturas. Hoje o jornalismo vive da web, e cada vez mais sua versão "física" deixa de existir - tempos modernos... o longa mantém um ritmo um pouco mais lento, conectado com o tempo em que a história se passa. É muito interessante ver como o ritmo de vida era outro - mesmo sendo um passado um tanto quanto recente.

O time de jornalistas investigativos do Boston Globe
Segundo, o roteiro - baseado em uma história verídica - se desdobra na investigação do grupo de jornalistas do Boston Globe conhecidos como Spotlight Team, reconhecidos por trabalhar com jornalismo investigativo. A investigação que fez o grupo se tornar conhecido no mundo se relaciona a crimes de pedofilia reconhecidos pela Arquidiocese de Boston e encobertos por acordos fechados na Justiça na cidade, das décadas de 1970 a 1990. Apesar do filme não focar em comentários de abusos ou relatos muito pesados, é possível sentir o peso tanto das pessoas que carregam na vida adulta o trauma do abuso sexual sofrido, quanto dos jornalistas que se deparam cada vez mais com histórias sofridas e dolorosas de serem contadas e ouvidas.

O grupo investigativo no Boston Globe
O filme recebeu um nome em português que tira um pouco a atenção do seu foco:  o foco não é a história em si, mas o "time" de jornalistas investigativos do Boston Globe. A história dos abusos sexuais de padres da Arquidiocese de Boston é contundente e chocante, mas a ação investigativa é o que traz o suspense ao filme e o que o faz quase perfeito. Perfeito em sua proposta e na sua continuidade - a continuidade é impressionante neste filme; perfeito na escolha de seus atores: Michael Keaton finalmente após Birdman conseguiu mostrar sua versatilidade; Rachel McAdams sempre ótima (não consigo achar um falha de atuação em nenhum filme com a atriz até agora, sem esquecer seriados, especificamente vi True Detectives); Mark Ruffalo, mais uma vez impressiona com a dramaticidade presente em gestos contidos, e Stanley Tucci, o qual não teço comentários pela grandiosidade de sua atuação, sempre. O longa é, ainda, excelente nos quesitos fotografia e edição, antenadas ao sem tempo e que nos faz "transportar" para 2001.

Stanley Tucci, interpretando o advogado Mitchell Garabedian
Spotlight conta com a direção de Thomas McCarthy, diretor com boa carreira em Hollywood, mas creio que após este longa irá deslanchar mais ainda na indústria. Posso dizer que vi um filme escrito e dirigido por ele, o primeiro da sua carreira, "O Agente da Estação" (2003), e que é um debut muito interessante para um diretor norte-americano. O filme fez muito sucesso no cenário independente.

Finalizo dizendo que gostei, e muito, de Spotlight. O tema é extremamente relevante, a história deslancha com o passar do tempo e me surpreendi, ao acabar, com a sensação de querer ver mais. O cinema, quando bem feito, dá essa sensação mesmo...filmes nunca acabam, mas permanecem em nossa memória, sendo revisitados de tempos em tempos.


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