sexta-feira, 27 de agosto de 2010

O Pequeno Nicolau (Le Petit Nicolas)


Carlos Drummond de Andrade escreveu certa vez uma frase que sempre achei muito interessante: "há duas épocas na vida, infância e velhice, em que a felicidade está numa caixa de bombons". Essa frase representa para mim o que há de melhor na vida, a inocência e pureza da infância, e a serenidade e simplicidade da velhice. Assim como na vida acreditamos sempre que a infância nos traz tão boas recordações pela falta de compromisso e pela simplicidade, o filme O Pequeno Nicolau me trouxe uma nostalgia dessa época, que vivi também plenamente.

Lembro de minha mãe comprando os livros da série O Pequeno Nicolau quando éramos crianças (junto com as revistas do Asterix). Quando eu era criança ela morou na França e trouxe para a gente boas recordações da literatura e cultura francesa. Já nem me lembrava mais dos livros da série (assim como esquecemos de tantas coisas boas de quando éramos novos), até que me deparei com a notícia no jornal de que havia estreado o filme baseado na série. Não podia ter sido também mais feliz a minha ideia de assistir o filme. Me trouxe muitas alegrias e também muitas recordações.

Recordações de quando era criança e achava que se alguém chamasse meu nome era porque tinha feito algo errado e iria ser castigada; recordações também do melhor aluno da turma, que sentava sempre na frente ou do menino gordinho que todo mundo brincava porque comia demais. Acho que todo o mundo já foi criança e já conheceu essas crianças - ou foi uma delas. O filme O Pequeno Nicolau traz uma mensagem importante, que é ver a vida com mais simplicidade, com um olhar mais feliz, de raiva, de medo, de dúvida, mas principalmente, inocente e despreocupado.

A trama de O Pequeno Nicolau é a seguinte: Nicolau é um menino de cerca de sete anos de idade e que como todos os meninos de sua idade, tem um olhar muito pueril sobre a vida. Ele na verdade, é uma criança feliz, tão feliz, como afirma no filme, que tem medo da felicidade ir embora de repente. Eis que surge de repente, por meio de uma curiosa e mal entendida escuta da conversa dos pais por trás da porta, uma notícia que poderia estragar tamanha felicidade: ele estaria ganhando um irmãozinho. Pelo que os amigos dele relatam, um irmão iria tirar toda a atenção da família sobre ele e acabar com sua felicidade. Mais ainda: Nicolau começa a acreditar que seus pais irão largá-lo para cuidar só do irmãozinho que está para nascer. Nicolau não se deixa abater com a notícia e decide bolar (alguns) planos mirabolantes com seus amigos para que seus pais não o abandonem.

Na história do filme, assim como nos livros, todos os seus amigos tem uma peculiaridade. Clotaire tem dificuldades de aprendizado e já está acostumado a ser repreendido pela professora; Alceste é o menino gordinho que come tudo o que vê pela frente; Geoffrey, um menino rico mas que não tem a atenção dos pais; Eudes, o "cdf" que dedura os colegas e que ninguém pode bater porque usa óculos. Esse universo infantil criado por Renné Goscinny (mais conhecido no mundo por Asterix que é de fato uma criação incrível, porém gosto muito também de Lucky Luke, quadrinho sobre um cowboy solitário do velho oeste) e imortalizado pelos desenhos de Jean-Jacques Sempé é um universo vivo em nossas lembranças, pois Nicolau é aquele menino que representa um pouquinho de todos nós.

A história do filme é baseada no primeiro livro da série, O Pequeno Nicolau volta às aulas, mas o roteiro foi feito a três mãos, por Laurent Tirard, Grégoire Vigneron e Alain Chabat (Tirard é também diretor do filme, e pouco conhecido até o momento por ter dirigido As aventuras de Molière). Sempé ajudou na roteirização, assim com a filha de Goscinny, Anne Goscinny, que só aceitou imortalizar o livro na tela do cinema após a promessa de que ele seria totalmente fiel à série de livros.

O filme O Pequeno Nicolau é muito bom em diversos sentidos: trata das aventuras de crianças que vivem e olham o mundo com o olhar de crianças, as situações entre os adultos, que são entendidas pelos adultos não deixam de ser divertidas, a fotografia e adaptação de época para a década de 1950 são excelentes e a trilha sonora sensacional(de Klaus Baudet). No final, fica aquele gostinho de querer voltar a ser criança e ter a felicidade de se preocupar com os problemas dessa fase da vida (sim, foi uma nostalgia total para mim!).

Vale a pena também se deleitar com a abertura do filme, animada por Sempé (baseada nos desenhos do livro). Aqui vai, para quem interessar, o link para assistir a abertura:

http://www.youtube.com/watch?v=H4KMXsSjSL4

PS: tenho tentado colocar links neste blog mas nunca consigo :( fica então o link acima para ser copiado, até conseguir (ou aprender) a postar o link direto...