sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

65 red roses



Este documentário mexeu muito comigo. Estava ontem de noite preocupada com amigos que moram em Friburgo e estão isolados por causa da tragédia das chuvas e muito triste com a situação toda, e na tv a cabo estava passando 65 red roses. Um filme sobre uma menina de vinte e poucos anos que sofria de uma doença rara , fibrose cística, e lutava para sobreviver - mas vivia intensamente cada segundo.

Pensei duas vezes, pois estava triste com a situação toda, e achei o filme triste também, mas...resolvi assistir. E me deparei com um documentário sutil que na verdade, fala sobre a arte de viver. E belo, pois mostra que mesmo na adversidade, o ser humano encontra razões para rir novamente.

Eva Markvoot, uma canadense que nas filmagens tinha 23 anos , esperava por um transplante de pulmão para poder ser livre como sempre quis. Viveu em hospitais a vida toda, respirava com dificuldade, mas mesmo assim, via em tudo e em todos pequenas alegrias para poder continuar. Ela fez um blog, chamado 65 red roses justamente porque quando criança, não conseguia pronunciar o nome da sua doença (cystic fibrosis = 65 red roses). A sua luta contra a doença se tornou uma ode à vida.

Pode parecer que o filme é mais uma tragédia, um drama destes bem clichês que fazem você chorar sem parar. Mas não é. Na verdade, o que 65 red roses faz é mostrar que o ser humano, em qualquer adversidade, encontra forças para viver - e amar. Eva amava profundamente, e sua vida foi marcada pela luta para continuar amando. Ela era jovem, queria viver e experimentar tudo o que a vida podia oferecer.

Esperando na fila de transplante, Eva conheceu duas jovens, norte-americanas, com a sua idade aproximada, que também sofriam da mesma doença. Uma tinha recebido um pulmão e estava se recuperando. A outra não havia recebido, vivia sozinha e lutava contra as drogas. As três se comunicavam pela internet e trocavam experiências. Eva recebeu o transplante de pulmão em 2007, durante a filmagem de 65 red roses. E conseguiu, depois de muitos anos, fazer algo simples, mas que sempre quis: respirar fundo. E também algo difícil, que achava nunca conseguir fazer: praticar canoagem. A vida dela, postada no blog que se tornou conhecido no mundo todo, se tornou um exemplo para jovens que sofrem da mesma doença ou de doenças que impossibilitem uma vida comum. E seu blog se tornou, de fato, uma celebração da vida.

Vendo este filme e pensando nas tragédias que ocorrem agora no Rio de Janeiro, fico imaginando, afinal de que vale você pensar tanto na morte, se ela é algo tão eminente e não escolhemos a hora? E aquilo que realmente fica para a humanidade é o que você fez de bem durante a vida. Eva fez o bem - ela viveu, até o último segundo, na esperança de viver cada vez mais e ser feliz - espalhando essa felicidade por todos que a conheceram, pessoalmente ou por meio de seu blog. Sei que meus pensamentos estão meio confusos no momento, mas esse filme me fez respirar um pouco mais leve - e ter um pouco mais de esperança.

***

Eva Markvoot faleceu em março de 2010 com 25 anos, por rejeição ao órgão que recebeu. O documentário não mostra essa fase, pois foi finalizado em 2008. Seu site hoje é ainda atualizado e sua vida é um exemplo reconhecido de luta contra a rara doença que a padeceu. Quem quiser acessá-lo e conhecer melhor Eva:


Termino com uma frase de Machado de Assis, que sabiamente disse: "a arte de viver consiste em tirar o maior bem do maior mal". Eva o fez.

sábado, 8 de janeiro de 2011

Rindo à toa (Laughing at loud)

Estou emocionada! Três posts seguidos assim, algo inédito :) inspiração total no momento. Ou, estando de férias (ou "meia-férias", já que pós não dá descanso), estou tendo mais tempo de selecionar e assistir filmes bons. Mas faço esta crítica com muito prazer. Primeiro porque o filme que vi é bom demais. Segundo porque fiz há poucos dias uma crítica de um filme francês sobre adolescência, bobo, mas divertido, e de repente pego este filme pra assistir e "bum": aquilo que eu esperava do outro está nesse filme.

Divertido, sim, mas LOL (como no original) é um filme também francês que também discute questões sobre adolescência de uma forma muito mais realista e interessante que 15 anos e meio. Terceiro, senti uma saudade enorme dos tempos em que ia nos festivais do Rio e assistia filmes de circuito alternativo no cinema da UFF...preciso voltar a frequentar festivais, uma coisa que amo. Se ainda frequentasse, teria visto esse filme há muito mais tempo.Mas vamos à crítica.

LOL conta a história de adolescentes experimentando as coisas novas da vida: fumar, beber, namorar, fazer sexo, amar...tudo isso é novidade para o grupo de amigos que estuda no Liceu público francês. Lola é uma menina com seus...16 anos? E seu grupo de amigos vive, é claro, na internet, nas baladas, e só quer saber de aproveitar a vida. Mas...você pode culpá-los?

A vida dos adolescentes já é conturbada, e a descoberta de tantas coisas novas é uma coisa sensacional - quem já passou por essa fase sabe do que estou falando. Não acho o filme despretensioso: acho que o filme toca em pontos fundamentais: a relação de Lola com a mãe e o pai divorciado, com seu "caso/ficante" , Mael, a relação do próprio Mael com seu pai controlador, e os problemas de suas amigas, como Charlotte, que está descobrindo os prazeres do sexo, são exemplos disso. Tudo isso ligado às novas formas de comunicação (msn, twitter, facebook, i-phone) faz essa geração aprender de tudo um pouco e experimentar de tudo um pouco.

De novo parece que sou muito velha :P mas isso acontece porque acho as tecnologias de comunicação hoje fantásticas e as redes sociais possibilitam coisas que eu nem imaginava na minha época (celular na minha adolescência era um trambolho que só ricaço da Barra tinha. E não, não sou tão velha assim, apenas vinte e nove aninhos ;)). É claro que os pais dos adolescentes retratados não têm ideia do que eles fazem - e também não dominam todos esses meios de comunicação.

Lola, porém, apesar de todos os seus conflitos internos e problemas com a mãe, é uma menina descolada e responsável. Quem está esperando ver no filme cenas de brigas dantescas, uso de drogas e bebedeira, esqueça, a personagem-título não é bagaceira. Ela é uma adolescente parisiense comum e seus amigos também são adolescente comuns.

Mais ligado ao drama, este filme tem pitadas de comédia, mas no final, o que fica mesmo é um gostinho saudosista e feliz. Com Sophie Marceau no papel da mãe de Lola, o filme fez o maior sucesso na França na época do lançamento (em 2008...como é que eu não o vi antes?) e segue a linha de As melhores coisas do mundo. Filme bonito, interessante e legal de se ver - e com uma trilha sonora muuito boa (incluindo Blur!! Eu tinha que gostar, né?)

Assistam. Filmaço.




sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

15 anos e meio (15 ans et demi)


O filme 15 anos e meio é uma comédia com ritmo ágil sobre a relação entre um pai ausente e uma filha adolescente, que voltam a dividir o mesmo teto depois de anos separados. Filme francês, porém com uma estética americana, 15 anos e meio não faz feio às comédias adolescentes presentes no cinema Hollywoodiano, porém não cria nada de novo.

Phillipe, um bioquímico radicado em Boston há quinze anos, decide voltar a Paris para realizar pesquisas e morar com a filha enquanto a mãe de sua filha, Églantine, viaja a trabalho. Églantine, a jovem em questão, é uma adolescente que vive sem regras, em uma casa mais que simpática em um bairro nobre em Paris. Como todos os jovens de classe média da sua idade (nossa, me senti uma velha agora! “Os jovens”...:P), Églantine tem um grupo de melhores amigas e amigos. Na escola, ela não vai mal. Descolada, divertida, inteligente e fofa, Églantine é uma adolescente legal.

Diferente dos filmes norte-americanos do gênero, onde os adolescentes populares e não populares se estapeiam na escola e brigam até os não-populares se darem bem no final, na escola de Églantine a realidade é um pouco diferente. Todos (ou quase todos) convivem bem – tirando a pequena rixa que ela tem com a namorada da paixonite de Églantine, o galã do colégio (sim, também existem “cheerleaders” e “jogadores de futebol” nas escolas parisienses).

O foco do filme está na relação de Églantine, interpretada por Juliette Lambolay, e Phillipe, interpretado por Daniel Auteil, que ainda trata a filha como se fosse criança e não consegue se adaptar ao cotidiano dos adolescentes – usar twitter, MSN, facebook e outros recursos de celular é coisa demais para a cabeça do bioquímico. Com a ajuda de um amigo que dá cursos para pais com filhos adolescentes problemáticos, Phillipe começa a entrar no universo da filha, tentando compreendê-la melhor (algumas das cenas mais engraçadas do filme, diga-se de passagem, são do “curso” que o amigo dá, ensinando gírias e palavreados de MSN. Ótimo).

15 anos e meio tem um nome bastante apropriado: ele é uma comédia para adolescentes – e para pais de adolescentes – verem e se divertirem. Ele é aplicável também para qualquer realidade de classe média: adolescentes querem se divertir, sair, namorar, beber e experimentar outras “cositas ” nessa fase. O filme, porém tem algumas falhar perceptíveis logo no início: erros de continuidade, personagens sem sentido e sem “fechamento” e cenas cortadas que deixam a desejar – parece que o filme foi editado às pressas.

Não creio que foi essa a intenção dos diretores, creio que eles queriam criar uma linguagem mais ágil para o filme, que se identificasse com os adolescentes, mas a percepção que tive é que os diretores tiveram pouco tempo para terminá-lo e daí os erros de filmagem. Pode ser que tenha tido esta percepção porque também não sou mais adolescente. Vai saber? :D

As cenas de Daniel Auteil contracenando com um Einstein imaginário, porém, são ótimas. Juliette Lambolay também está muito bem no papel e é um dos destaques de 15 anos e meio. Suas cenas com Auteil são boas, e isso é difícil de conseguir na idade dela (17 anos quando fez o filme).

De confusões na escola, festa de arromba na sua casa e saídas com meninos, Églantine amadurece e se torna uma adolescente bastante simpática. Ou seja, o filme passa duas mensagens, no meu ponto de vista: “adolescentes são complexos e difíceis, mas é possível compreendê-los” e “pais não compreendem os adolescentes, mas isso é normal, o importante é o diálogo”.

Morais bonitas e um final previsível. Porém, para assistir de forma despretensiosa numa tarde em casa, comendo pipoca, não há problema nenhum. Só não espere muito além disso.

PS: diferenças à parte, quem estiver a fim de ver um excelente filme sobre a adolescência e seus conflitos veja As melhores coisas do mundo, de Laís Bodanzki. Se estiverem a fim também, leiam a crítica que fiz do filme: http://femovieblog.blogspot.com/2010/05/as-melhores-coisas-do-mundo.html

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Sempre ao seu lado (Hachiko: a dog's tale)



Voltando ao blog em 2011 a todo vapor. Muita coisa para fazer! O lance é não desistir e ir até o final. E é claro que eu não ia esquecer do meu blog querido. Sem mais desculpas em relação ao tempo, vamos lá.

Hachiko ou Hachi(prefiro o nome em inglês ou em japonês) é um filme triste. Triste e bonito. Não estou querendo dizer para todo mundo desistir de alugar, porque não é esse o objetivo. Estou dizendo: vejam sim, e se emocionem. Eu chorei pra caramba. E olha que eu não sou de chorar em filme com animais, ou dramas rocambolescos. Mas Hachi trata de dois assuntos muito importantes na vida de todos: amor e lealdade. Para ilustrar o meu ponto de vista, vou recorrer a uma frase de um humorista americano que pouco se conhece - pelo menos na internet - mas que disse: " a dog is the only thing on earth that loves you more than he loves himself" (um cachorro é a única coisa no mundo que ama mais você do que a ele mesmo). Isso se traduz em Hachi : o amor do cachorro pelo seu dono é maior do que qualquer outra coisa e que todas as adversidades.

A história de Hachi é baseada em um episódio, conhecido e contado no Japão até hoje, de um cachorro da raça Akito que se torna tão companheiro de seu dono que o espera na plataforma do trem todos os dias, no mesmo horário. Hachi é um cão diferente dos outros; ele não corre atrás de bolas, não brinca com crianças, não se apega à família que o cria, ele é leal ao seu dono e faz de tudo por ele.

A história começa em uma fria plataforma de trem em uma pequena e fictícia cidade norte-americana. Hachi, filhote e acoado, perdido no lugar, procura por alguém que o ajude e escolhe o Professor Wilson (Richard Gere), que está voltando do trabalho. A partir daí, Hachi o elege como seu grande amigo e não o larga nunca. Nos dias mais gelados de inverno, ele acompanha Wilson até a plataforma quando ele vai trabalhar e na volta, espera seu dono fielmente e pontualmente em frente à estação de trem.

Hachi, mais que tudo, é um filme que mostra uma relação de amizade que se estabelece entre o animal e seu dono; algo que como Josh Billings tenta explicar, é irracional e racional. Racional porque Wilson acolhe o cachorro em momentos de perigo, o trata como um membro da família, cuida dele em todos os sentidos, então a retribuição do carinho do animal é natural. Porém, é irracional porque o cachorro o ama incondicionalmente - e o espera durante nove anos em uma plataforma de trem, sempre no horário de chegada e saída do seu dono ao trabalho.

Não fiquem furiosos, eu não contarei o final do filme; ele é baseado em uma história verdadeira que só virou filme devido à lealdade do cão de ir todos os dias esperar seu dono na plataforma. Incondicionalmente, o cachorro era leal ao dono e o amava profundamente. Virou notícia de jornal no Japão, na década de 1920 - não, o filme não é baseado em uma história real norte-americana. E é claro, a participação de Gere na filmagem como o dono de Hachiko era mais que certa, sabemos que ele tem uma relação profunda com o oriente e com a religião budista (acho que é o ator ocidental que mais fez filmes no Japão e na China. Um mercado difícil de se inserir).

Baseado em uma história verídica e com direção de Lasse Hallstrom, diretor sueco mais conhecido por Regras da Vida e Chocolate (apesar de eu amar Gilbert Grape, cuja direção é dele também) e sua direção minimalista, o filme conta ainda com uma atuação contida e impecável de Joan Allen (vejam A Vida em Preto e Branco - filme excelente com uma atuação idem dela), conta ainda com a participação do sempre bom também Jason Alexander (o eterno George Constanza de Seinfeld) e de Erick Avari, ator indiano famoso em Hollywood.

A conclusão que tiro é que o filme é bonito pra caramba. Não somente pela fotografia, que é excelente, nem pelos cachorros que interpretam Hachiko filhote e na vida adulta, que roubam a cena (são tão fofos que dá vontade de dormir agarrada com eles), mas pela mensagem que ele passa, de que realmente existem amores que duram a vida toda - e que a lealdade de um cão ao seu dono é algo tão bonito que não é à toa que eles são considerados o melhor amigo do homem. Não se acanhe em chorar, porque chorar, vendo este filme, faz bem à alma.