quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

O casamento de Muriel (Muriel's Wedding)






Bem, falei que ia rever O Casamento de Muriel, e acabei revendo! Era algo que queria fazer há muito tempo, pois é um filme que gosto muito.

O Casamento de Muriel é uma produção australiana de 1994, que tem no papel principal Toni Collette, interpretando Muriel Heslop. O longa pra mim é uma fábula de Cinderela (ou Uma Linda Mulher) ao avesso, pois na verdade, é bem mais consciente e Muriel se descobre, ao invés de atribuir a um homem ou como é vista pela sociedade, as respostas para a sua felicidade, vivendo uma viagem ao seu próprio interior, se valorizando por suas qualidades ao longo do filme.

Muriel é uma jovem de vinte e poucos anos, que vive em uma família repleta de problemas e em uma vida de marasmo na fictícia Porpoise Spit, na região de Queensland, a "Gold Coast" da Austrália(o nome da cidade é algo como "cuspe de boto", uma brincadeira provavelmente muito divertida para o roteirista, que é o diretor também e que nasceu em Queensland, P.J. Hogan). A cidade é turística e de praia, e não oferece muitas oportunidades além do turismo e do envolvimento político, atividade do pai de Muriel, Bill (interpretado pelo premiado ator australiano Bill Hunter),ex-vereador, ex-deputado e "quase governador". Seu poder local e seu "jeitinho" para resolver as coisas acaba o levando a ser uma das figuras mais emblemáticas do filme, pois ele atribui todos os problemas à família, que chama de inúteis, sem atribuir a seus próprios atos ilícitos e jeito de viver a personalidade que os filho desenvolvem.

Muriel não se veste bem, não é muito bonita, é gordinha, nunca teve emprego fixo por muito tempo, vive de mesada nas casas do pai, nunca teve namorado e sempre sonha acordada em seu quarto ouvindo Abba, seu grupo musical favorito. Muriel vive em uma bolha de conforto e de marasmo, até que suas supostas "amigas", que vivem a botando pra baixo, a excluem do grupo, alegando ela não estar no mesmo nível delas - muito amigas, certo?

Já vou dizendo aqui que a caracterização das amigas e do ambiente em Porpoise Spit é muito legal, pois o local é considerado tão atrasado e cafona que na verdade elas usam uma moda misturada de anos 80 e anos 90, breguérrima. O corte de cabelo, as roupas, a maquiagem exagerada, tudo é bem exagerado mesmo, e hilário para nós hoje, que vemos os anos 1980 como o buraco da moda do século XX.

Assim que Muriel é excluída do grupo, acredita que não tem nada mais para viver e acaba pegando o dinheiro dos pais para conseguir ganhar de volta a amizade das supostas "amigas", que viajaram para uma cara ilha no Taiti. Lá, é ignorada pelas amigas e reencontra Rhonda (Rachel Griffiths), uma ex-colega de escola, que mora em Sidney e conhece uma Muriel legal e divertida. Após o contato com Rhonda, e com medo dos pais devido ao sumiço do dinheiro, Muriel foge para Sidney para dividir apartamento com ela. Lá ela se redescobre, vivendo uma vida feliz e longe de todos que sempre a zombaram.

Porém, a felicidade de Muriel não dura muito. Com seu pai sendo investigado pela Receita Federal e com a repentina doença de Rhonda, Muriel volta a sonhar com aquilo que sempre achou que lhe traria felicidade: o casamento. Assim, acaba respondendo a um anúncio de jornal aonde o técnico de um nadador sul-africano premiado busca uma esposa para que ele fiquei treinando na Austrália e não tenha que retornar à África do Sul. O lindo nadador era tudo o que Muriel queria para realizar seu sonho de casar de branco. Questionada por Rhonda o porque casar era tão importante para ela, ela diz que todas as pessoas que conhece são felizes porque casam, então ela queria mostrar ao mundo que era feliz casando.

No meio tempo de toda a confusão mental na cabeça de Muriel, Muriel acaba redescobrindo o seu valor e o valor da amizade. Um dos papéis importantes do filme é o de sua mãe, uma dona de casa totalmente sem voz e que "vive por viver", na bucólica cidade de veraneio. Sem ser escutada pelos filhos e marido, Betty Heslop (Jeanie Drynan) vê sua filha a roubar, seu marido a trair e sua vida ser reduzida a televisão e afazeres domésticos, ficando depressiva. A depressão da mãe, claramente vista do início ao fim do filme, é um dos pontos fundamentais de mudança de Muriel - ela sempre quis o bem dos filhos, e Muriel a ignorava, como seu pai.

Por esse e mais vários motivos (que não contarei aqui pois já contei demais partes do filme importantes, e daí vão dizer depois que eu estrago o fim do filme) acredito que O Casamento de Muriel é um filme bem feito e interessante, pois ele não trabalha com estereótipos, mas como superar os tais rótulos que a sociedade geralmente cria para que você seja uma "vencedora na vida". Marido, emprego com status, vida social ativa, amigas bonitas, roupas e aparência magra nos padrões das revistas de moda, tudo isso não condiz com Muriel, que se vê desprezada e ignorada, até encontrar forças nela mesma e descobrir que ela tem sim valor, e mesmo que seja diferente dos padrões da sociedade, tem pessoas que a amam e querem estar ao seu lado. Meio clichê? Pode ser. Mas só sei que de Cinderela e Uma Linda Mulher já estamos todas cheias, né? Nenhuma mulher é perfeita, e nenhum príncipe vai vir te buscar no cavalo branco se no final, você não buscar dentro de si mesma a felicidade.










segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Jesus Henry Christ (2012)

Finalmente de volta ao meu blog, aquele que abandonei há tanto tempo...mas nada como voltar. There's nothing like home! E esse espaço deixa eu me sentir como em casa. Pra (re) começar, só mesmo um filme inusitado e legal pra me fazer ter vontade de escrever. E claro, um pouco mais de tempo. Esse filme se chama Jesus Henry Christ, que em português ganhou a triste tradução de A origem da vida. Mais uma vez, porquê? Ninguém sabe. Jesus H. Christ é o nome que a mãe de Henry (Jason Spevack), o personagem principal do filme, clama toda vez que está nervosa ou abismada. No filme, Henry é mesmo comparado a Deus, ou algo inexplicável. O menino, que com nove meses começa a falar e tem QI maior de 200, é filho de proveta e tem uma mãe ativista e feminista, que reluta em deixar que o filho seja tratado de forma diferente. O filme tem uma estética bem diferenciada, bastante impactante até, por assim dizer. Um estilo "Amélie Poulain", mas sem a meta- linguagem de Amélie. Sua mãe, Patricia (Toni Collette), filha de uma família que teve cinco filhos, vê sua família desaparecer aos poucos, deixando-a para cuidar de seu pai, Stan, que é o "guru"de Henry na história. Não satisfeito com as explicações da mãe sobre a sua origem, é com o avô politicamente incorreto que Henry consegue as explicações e passa a entender melhor o porque ele é o que ele é. Consegue o nome de seu verdadeiro pai, um professor de Psicologia, que utilizou a filha como experimento para comprovar se o homossexualismo seria biológico ou social (lançando um livro e expondo a filha com apenas 12 anos, que se torna o alvo fácil de bullying na escola). Entram aí em cena Michael Sheen como o Dr. O'hara e Samantha Weinstein como Audrey O'Hara, filha revoltada do psicólogo que a deixou ser exposta. Henry entra na vida dos dois sutilmente, após conseguir ler o livro em apenas minutos com sua memória não apenas fotográfica, mas "filmográfica". Se conhecer a sua "nova família" o deixa feliz, é a partir desta viagem de auto-conhecimento que Henry passa também a conhecer melhor a mãe e a família dela, entendendo que sua origem é privilegiada nos dois lados da família. Jesus H. Christ é um filme (talvez) adequado para toda a família, com o estilo do Wes Anderson, com personagens carismáticos e reflexões filosóficas sobre a vida e a família. Com certeza ele diverte, seja pelas cenas inusitadas e boa fotografia, seja pela reflexão que traz, sendo uma boa atração para qualquer idade. Com direção e roteiro de um estreante diretor, Dennis Lee consegue segurar o longa mesmo que, ao final, ele mostre que na verdade seu filme é um drama maior do que comédia, mas que traz personagens cativantes e que você não verá em qualquer filme. Pra terminar, Toni Collette, sempre muito bem, segura o filme como se fosse uma pena no ar. Isso me lembra que tenho que rever um dos filmes que mais gosto, O Casamento de Muriel, com a estreante Collette mostrando que veio ao mundo para atuar. E Jesus H. Christ, como que o HD muda a nossa forma de ver filmes! A fotografia é muito boa, e as cores "saltam" da tela, assim como todas as rugas e pintinhas no rosto de Collette. Quem sabe é o realismo fantástico entrando nas salas de cinema (ou na sua sala) :P .