terça-feira, 22 de abril de 2014

A vida secreta de Walter Mitty (The Secret Life of Walter Mitty, 2013)

Vi ontem “A vida secreta de Walter Mitty” e tive uma grande vontade de ler o conto que deu origem ao filme, de James Thumber,de 1939, e ao filme original, de 1947. Não consegui ver o filme, mas li o conto, que é bem pequeno e bem legal. Porém, nada tem a ver com o filme. O conto narra a história de Mitty, um homem cuja esposa dita suas ações e vive sonhando no horário vago. Os momentos de devaneio de Mitty são momentos de escapismo, nos quais ele se torna um cirurgião importante, um aviador da Segunda Guerra ou um advogado inflamado em busca da inocência do seu cliente. Ele é um homem comum, provavelmente de meia idade, que vive nos subúrbios norte-americanos, cuja vida só tem graça ao se imaginar como herói e no mundo excitante da imaginação. E o escapismo é a única relação do conto com o filme, que conta a história de um funcionário da seção de negativos da Life Magazine nos dias atuais. 

Ben Stiller e Kristen Wiig como Mitty e Cheryl, em um dos devaneios de Mitty
 Com uma mãe idosa e uma irmã atriz para sustentar, Walter não vive, na verdade devaneia quando pega o metrô para o trabalho, quando chega ao trabalho, no momento do café e quando volta para casa. Até que um belo dia recebe um presente de um fotógrafo famoso: uma carteira e negativos do último rolo dele para a revista. A revista, fechando suas operações impressas e em transição para operar somente de forma digital (o que aconteceu em 2009), busca a última foto de capa, a foto perfeita. Essa foto, o negativo 25, é a única faltando no rolo enviado para Mitty. Assim, Mitty decide correr atrás do fotógrafo, como uma última missão na sua profissão que está fadada a desaparecer e passa finalmente a viver, a se aventurar, e esta é a parte do filme – ligada à redescoberta – em que ele começa a viver a vida que sonhou nos últimos vinte anos.

O visual do filme é muito legal, essa cena é na Islândia

Não dá pra contar mais da trama, esse é apenas o roteiro inicial, mas o filme tem cenas muito boas, e cenas bem dispensáveis. A estética dele, por outro lado, é bem bonita, e há sempre o contraste do vermelho com o azul, como se fosse a capa da Life, com fotos em preto e branco que contrastavam com a faixa vermelha sangue. A estética azulada do filme o deixa também com um ar futurista, apesar da trama se passar na Nova York atual. Acho que o grande problema de “A vida secreta de Walter Mitty” é que ele contrasta cenários lindos como a Islândia com cenas dispensáveis como a de Mitty sonhando ser Benjamin Button. Há um ar dramático em sua história, que também contrasta com humor, mas acho que não há uma definição entre humor e drama, tudo fica bem no meio termo. Tudo bem, eu sei que o Bem Stiller produz, atua e dirige o filme, mas sei lá, perdeu um pouco o ar dramático– porque a beleza do filme está nas descobertas que Mitty faz ao finalmente viver.
Aliás, uma das coisas que mais gostei do filme foi ele ter se baseado na história do fechamento de uma revista de fotojornalismo que foi referência no século XX. Achei que fizeram uma homenagem, na verdade, à revista. Cenas muito bonitas, cores incríveis, sempre contrastando com o vermelho da capa.

Cheryl cantando Space Oddity, numa das cenas mais bonitas do filme
Walter Mitty é um bom filme, mas não se assemelha ao conto de Thumber, apesar da ideia principal poder ser universal. Thumber escreveu em 1939 uma sátira à vida suburbana de muitos americanos, com críticas sarcásticas ao American Way of Life. O conto em si é bem legalzinho. O filme parece que buscou uma inspiração no conto para mostrar a vida de um homem que não viveu, e que começa a se perguntar, com quarenta anos, qual o seu propósito. Pena que Ben Stiller não consegue responder à altura de uma trama que tinha tudo para ser excelente.
Pra terminar, vou deixar o link pro conto de Thumber e o link de Space Oddity que David Bowie e Kristen Wiig cantam juntos (e ela interpreta no filme). A música tema do personagem é muito bonita, e tem tudo a ver com o filme. 



quinta-feira, 17 de abril de 2014

Les Misérables (2012)

Vi ontem no ônibus voltando do trabalho Les Misérables, o musical, dirigido por Tom Hooper em 2012. Fiquei impressionada com a qualidade do longa. Achei o filme muito bem dirigido, produzido, com boas atuações e me assustei mais ainda quando li que ele foi filmado com as músicas sendo gravadas ao mesmo tempo, ou seja, o trabalho vocal dos atores foi pesado, e por isso mesmo que certas horas sentia que havia um desafino aqui ou ali.

Hugh Jackman interpretando o prisioneiro Jean Valjean

A adaptação do musical baseado no livro de Victor Hugo, que é um clássico emocionante sobre o período pós-revolucionário na França, na minha opinião, foi muito boa. Hooper soube adaptar bem o estilo musical para o cinema, o que é muito difícil devido às dificuldades de adaptação do palco para a câmera. E eu já gosto de musicais, imagino que quem não está acostumado tenha menos paciência em ver um longa de duas horas e meia com todos os diálogos cantados.

O que me impressionou mais ainda foram os focos constantes nos atores, o jogo de câmera que deu uma originalidade ao filme e trouxe também mais angústia e sentimentalismo ao mesmo. Sim, eu achei Les Miserables emocionante! Desde um Jean Valjean muito bem interpretado por Hugh Jackman, à Fantine de Anne Hathaway (não vou discutir se ela ou Sally Field mereciam o oscar de coadjuvante, mas posso dizer que Hathaway “entregou” bem aquilo que tinha proposto fazer) e aos jovens revolucionários de Paris, que são uma parte importante do musical.

Valjean resgatando Fantine (Anne Hathaway)
Acho que os pontos fracos da trama são de uma narrativa às vezes rápida demais, com cenas curtas, como as de Fantine no início do filme, e outras muito longas. O livro perdeu muito na adaptação. Achei muuuito chata a interpretação de Eddie Redmayne como Marius e de Amanda Seyfried como Cosette. Acho que podiam ter escolhido outra atriz para o papel, Seyfried pouco aparece e não está bem, além da idade bem maior que a personagem do livro. Porém, o ápice do filme, com a cena das barricadas na Rua Saint-Denis e do combate entre os jovens revolucionários e o exército foi emocionante, além da participação de Valjean.
A Revolução de 1832
Uma coisa é certa: Hugh Jackman está ótimo, e ele consegue se afirmar no papel principal de forma segura e forte: impossível não sofrer com um personagem preso dezenove anos por roubar pão e condenado a fugir eternamente da perseguição do seu algoz, Javert. Russel Crowe, por sua vez, que interpreta o inspetor Javert, não conseguiu fazer um antagonista à altura de Jackman. 
Recomendo fortemente o filme, mas recomendo também um lencinho a tiracolo, pois as cenas emocionantes me fizeram chorar no ônibus algumas vezes, o que levou alguns passageiros a me olharem meio esquisito durante a viagem.