domingo, 15 de fevereiro de 2015

Whiplash, em busca da Perfeição (Whiplash, 2014)

Com a proximidade do Oscar estreiam vários filmes interessantes nos nossos cinemas, filmes que ao longo do ano raramente entram em cartaz em grande circuito. Whiplash é um desses filmes que, com certeza, não fosse a indicação ao Oscar, entraria em pequeno circuito, devido à sua temática e à forma como foi filmado. Whiplash é um filmaço - e quem é amante da música, especialmente do jazz, vai se deleitar com este longa sobre um jovem baterista tentando se estabelecer como musicista de jazz em uma escola tradicional em Nova York.

Miles Teller interpretando Andrew em Whiplash

O longa, escrito e dirigido por Damien Chazelle, traz no seu enredo, focado na relação conflituosa, tensa e intensa entre duas pessoas (o jovem Andrew, interpretado por Miles Teller, e um renomado professor da Escola Shaffer, interpretado brilhantemente por J.K. Simmons) uma força incrível. O longa retrata um duelo entre o egocêntrico e renomado professor Fletcher, e seu pupilo, fã de Buddy Rich, desconhecido e fascinado com um mundo da música que sempre sonhou em participar.

Damien Chazelle escreve um roteiro extremamente apaixonante, o qual nos faz identificar com os sacrifícios do jovem e nos chocar com o ego exacerbado do professor, que humilha, faz piadas preconceituosas e pressiona seus alunos até eles terem um verdadeiro "breakout" ou "break down": ou se tornam perfeccionistas na arte de tocar instrumentos ou chegam à beira da loucura, em um abismo de depressão.

J.K. Simmons com Teller em um dos ensaios

É importante ressaltar que com um roteiro tão intenso esses dois personagens se destacam bastante, e não podiam ter escolhido melhor ator para fazer o professor carrasco de música Fletcher do que J.K. Simmons. Abocanhando vários prêmios ao longo do último ano, é o nome certo para ganhar Oscar de melhor ator coadjuvante no longa. Sua interpretação é artística, até brilhante, e pode-se dizer quase perfeita. J.K. Simmons arrebata o público demonstrando que o extremismo pode levar as pessoas a uma brilhante perfomance nos palcos, mas também a um fracasso estrondoso. E mostra, também, que esta linha é tênue.

J.K. Simmons, brilhante no papel do Maestro Fletcher
Miles Teller, por sua vez, ator que debutou junto à Shailene Woodley em Spectacular Now, filme extremamente interessante, com bom roteiro e bem dirigido, após alguns filmes mais comerciais demonstra que veio ao cinema escolhendo bons papéis, e pode ser que daqui a alguns anos ele mesmo seja um ator premiado e renomado em Hollywood. Ele está seguro no papel, mas claro, a grande estrela do filme é Simmons (apesar de ser o coadjuvante, e Teller o principal).

Sobre o enredo, alguns críticos chegaram a comparar o longa com Cisne Negro. Até mesmo vendo o filme deu para fazer essa comparação. O longa se parece sim, mas ao mesmo tempo traz uma temática diferente por abordar o mundo da música, e especialmente do jazz, que é verdadeiramente um mundo à parte. Envolvido em uma aura erudita (que existe no balé) e, ao mesmo tempo, com criatividade intensa (que não é comum à esta dança), Andrew busca adentrar no campo da música não somente tocando de forma perfeita, mas superando as expectativas de seu professor. A cena final do filme, a mais longa, creio eu, é emblemática neste sentido e de tirar o fôlego.

Whiplash, enfim, ganha o espectador com seu estilo de câmera, especialmente fotografia, montagem e edição, com closes nos instrumentos e nas mãos destruídas de Andrew, além do estilo comum também em Cisne Negro de seguir personagens com a câmera. A solidão de Andrew também é retratada, com longas cenas dele sozinho perambulando por Nova York ou tocando a bateria até a exaustão. Além disso, a solidão é vista no ressentimento a incompreensão que sente com os outros poucos personagens da trama,  nas noites de cinema com seu pai e especialmente na cena em que seus parentes contam histórias de "sucesso" de primos, sem reconhecerem a atuação de Andrew na reconhecidíssima banda de jazz de Terence Fletcher. O jazz, de fato, é um mundo à parte, e Whiplash retrata este mundo de forma precisa, lançando um olhar interessante e curioso (para leigos) sobre um mundo musical fechado e, por sua história musical e técnica, maestral.

Cartaz do filme, lembrando cartazes da década de 1950, anos áureos do jazz