Miles Teller interpretando Andrew em Whiplash |
O longa, escrito e dirigido por Damien Chazelle, traz no seu enredo, focado na relação conflituosa, tensa e intensa entre duas pessoas (o jovem Andrew, interpretado por Miles Teller, e um renomado professor da Escola Shaffer, interpretado brilhantemente por J.K. Simmons) uma força incrível. O longa retrata um duelo entre o egocêntrico e renomado professor Fletcher, e seu pupilo, fã de Buddy Rich, desconhecido e fascinado com um mundo da música que sempre sonhou em participar.
Damien Chazelle escreve um roteiro extremamente apaixonante, o qual nos faz identificar com os sacrifícios do jovem e nos chocar com o ego exacerbado do professor, que humilha, faz piadas preconceituosas e pressiona seus alunos até eles terem um verdadeiro "breakout" ou "break down": ou se tornam perfeccionistas na arte de tocar instrumentos ou chegam à beira da loucura, em um abismo de depressão.
J.K. Simmons com Teller em um dos ensaios |
É importante ressaltar que com um roteiro tão intenso esses dois personagens se destacam bastante, e não podiam ter escolhido melhor ator para fazer o professor carrasco de música Fletcher do que J.K. Simmons. Abocanhando vários prêmios ao longo do último ano, é o nome certo para ganhar Oscar de melhor ator coadjuvante no longa. Sua interpretação é artística, até brilhante, e pode-se dizer quase perfeita. J.K. Simmons arrebata o público demonstrando que o extremismo pode levar as pessoas a uma brilhante perfomance nos palcos, mas também a um fracasso estrondoso. E mostra, também, que esta linha é tênue.
J.K. Simmons, brilhante no papel do Maestro Fletcher |
Miles Teller, por sua vez, ator que debutou junto à Shailene Woodley em Spectacular Now, filme extremamente interessante, com bom roteiro e bem dirigido, após alguns filmes mais comerciais demonstra que veio ao cinema escolhendo bons papéis, e pode ser que daqui a alguns anos ele mesmo seja um ator premiado e renomado em Hollywood. Ele está seguro no papel, mas claro, a grande estrela do filme é Simmons (apesar de ser o coadjuvante, e Teller o principal).
Sobre o enredo, alguns críticos chegaram a comparar o longa com Cisne Negro. Até mesmo vendo o filme deu para fazer essa comparação. O longa se parece sim, mas ao mesmo tempo traz uma temática diferente por abordar o mundo da música, e especialmente do jazz, que é verdadeiramente um mundo à parte. Envolvido em uma aura erudita (que existe no balé) e, ao mesmo tempo, com criatividade intensa (que não é comum à esta dança), Andrew busca adentrar no campo da música não somente tocando de forma perfeita, mas superando as expectativas de seu professor. A cena final do filme, a mais longa, creio eu, é emblemática neste sentido e de tirar o fôlego.
Whiplash, enfim, ganha o espectador com seu estilo de câmera, especialmente fotografia, montagem e edição, com closes nos instrumentos e nas mãos destruídas de Andrew, além do estilo comum também em Cisne Negro de seguir personagens com a câmera. A solidão de Andrew também é retratada, com longas cenas dele sozinho perambulando por Nova York ou tocando a bateria até a exaustão. Além disso, a solidão é vista no ressentimento a incompreensão que sente com os outros poucos personagens da trama, nas noites de cinema com seu pai e especialmente na cena em que seus parentes contam histórias de "sucesso" de primos, sem reconhecerem a atuação de Andrew na reconhecidíssima banda de jazz de Terence Fletcher. O jazz, de fato, é um mundo à parte, e Whiplash retrata este mundo de forma precisa, lançando um olhar interessante e curioso (para leigos) sobre um mundo musical fechado e, por sua história musical e técnica, maestral.
Cartaz do filme, lembrando cartazes da década de 1950, anos áureos do jazz |
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