domingo, 30 de outubro de 2011

A Condenação (Conviction)


De volta ao blog e assistindo a muitos filmes por sinal. Decidi postar uma crítica sobre um que me fez refletir sobre nossas crenças. A Condenação, drama estrelado por Hillary Swank e Sam Rockwell, conta a história verídica de uma mulher que busca inocentar o irmão acusado de assassinato e e condenado à prisão perpétua em Massachusetts, nos Estados Unidos, na década de oitenta.

A Condenação é um filme de baixo orçamento e atuações contundentes, que tem por objetivo mostrar uma história verdadeira e dramática de uma mulher forte que luta por seus ideais. No caso, Swank interpreta uma mulher de origem pobre e família conturbada, Betty Anne Waters, que de dona de casa se torna uma estudante de direito com um objetivo apenas: libertar seu irmão da prisão perpétua e provar que ele é inocente. Sam Rockwell, por sua vez, interpreta Kenny Waters, o irmãos encrenqueiro de Betty Anne que acaba sendo acusado e condenado, de acordo com ela, injustamente pela justiça.

Bom, a história do filme se passa na década de 1990, período em que Betty Anne luta pela libertação do irmão, mas com flashbacks de sua infância com ele e do passado em que ele foi acusado de ser assassinado. Dirigido por Tony Goldwin, o filme tem um leve toque de suspense - devido à dúvida que fica no ar, para o espectador, se no final das contas Kenny teria matado uma senhora alemã a facadas para roubar-lhe ou não. Na verdade, o filme se desenvolve a partir do olhar de Betty Anne em relação ao irmão e à certeza de que ele é inocente do caso, um olhar inocente e apaixonado, captado brilhantemente por Swank.

Apesar de Swank roubar a cena, sendo muitas vezes angustiante a certeza que Betty Anne tem sobre o irmão, que mesmo que improvável, faz com que acreditemos em sua história, por outro lado Sam Rockwell compõe um personagem contido e violento, porém humanizado, o que faz com que tenhamos simpatia também pela sua causa. Sem dúvida a relação dos irmãos é o mote principal da história e Rockwell está ótimo como Kenny, um homem com passado sombrio e perigoso, mas que tenta provar que apesar de todos os indícios, ele não é um assassino.

Kenny e Betty Anne são também frutos de uma família branca empobrecida do interior, chamados de "white trash", com mãe e pais ausentes. Vivendo sozinhos, eles tentavam criar um mundo de fantasia por onde passavam, invadindo casas e vivendo como pessoas "normais", como afirmou Betty quando criança. A realidade dura une os irmãos (mesmo que pouco explicado no filme, que dá a entender que, separados quando crianças pela assistência social, eles permaneceram com fortes laços na vida adulta).

Kenny é um verdadeiro herói na visão mistificada de Betty. Não importa o que fizesse, ele era o salvador de Betty, o "anti-heroi" da história, na verdade, mas o irmão mais velho no qual ela se espelhava. Por isso a Betty adulta não consegue se desvencilhar da imagem fantasiosa do irmão quando ele se torna mais velho, tentando inocentá-lo a todo custo.

O filme faz uma crítica ao sistema prisional norte-americano, assunto bem visto pela filmografia americana, mas por outro lado, o foco está nos laços afetivos entre Kenny e Betty Anne. A junção da luta de uma mulher com poucas oportunidades mas insistente e lutadora, com a importância dada à família são os principais condutores da trama, transformando o "thriller" em um drama complexo, angustiante e ao mesmo tempo, emocionante.

Swank e Rockwell compõem suas personagens de forma tão realista que, a certo momento, o olhar do espectador se desvia da falta de credibilidade da história de Betty para a aceitação da inocência de Kenny, o que mostra que os atores souberem "vender" muito bem suas personagens.

Tudo se torna crível e o espectador começa a torcer para os dois, grandes anti-heróis de um sistema opressor e cruel com as classes mais baixas, principalmente devido às penas de morte e perpétua existentes no país. Mas o filme não discute a crueldade das penas, e sim a injustiça de um sistema que acusa aqueles menos favorecidos, dando poucas chances de recursos em casos como os de Kenny - o júri aceita prontamente os indícios de que Kenny teria matado a senhora alemã, existindo apenas provas circunstanciais sobre o caso, não dando chance nenhuma de defesa.

O filme peca na originalidade e deixa muitos fatos sobre o assassinato mal explicados. Mesmo que apresente traços de suspense, é um drama que promete deixar o espectador em lágrimas, além de ter elementos básicos de filmes dramáticos: luta contra o sistema ou alguma "força" maior, sofrimento das personagens principais, personagem feminina forte e que luta pela família, e ser baseado em uma história verdadeira que, nas mãos do roteirista, se torna uma história extremamente humana e a aproxima da gente, mesmo que as personagens principais não sejam o exemplo perfeito de "good guys" - pois ninguém o é.

Dou meus créditos aos dois atores, que conseguem, muito bem, compor as personagens e apresentar uma história realista e humanizada, sem precisar da ajuda de nenhum tipo de efeito ou orçamento exorbitante, nem a apelação habitual de muitos atores que, na inabilidade de compor suas personagens, pecam pelos excessos. Recomendo o filme para aqueles que estejam a fim de ver um filme sem muitos excessos, com boas atuações, mas com história triste e realista, que nos faz refletir sobre nossas convicções.