quinta-feira, 28 de agosto de 2014

O Grande Hotel Budapeste (Grand Budapest Hotel, 2014)

Creio que escrever sobre filmes requer uma boa dose de análise pessoal, crítica e encantamento. Por isso neste blog tenho escrito apenas sobre filmes que gosto - uma história que me cativa, que se torna interessante por alguma atuação, estética ou direção, ou que por si só é bela e vale a pena assistir. Os três casos se aplicam ao Grande Hotel Budapeste. O vi no avião voltando de um congresso e a princípio, já sabia que era um filme com vários atores bem conhecidos, com uma estética detalhista e até mesmo surrealista, presente nas obras do diretor Wes Anderson, em uma história que se passa no início do século XX. Mas o que me encantou neste novo filme do diretor de Moonrise Kingdom e Os Excêntricos Tennenbaum foi a história singela e delicada de um mundo que parecia apenas uma ilusão no pós-Primeira Guerra. 

O Grande Hotel Budapeste

A belle époque se tornou um símbolo de uma época de grandes impérios, de crescimento econômico e de uma cultura fervorosa que surgiu na Europa pós-industrial. Os costumes, a estética romântica, o desenvolvimento da ciência em uma época que de fato foi importantíssima para a literatura, para o cinema e para a arte se fazem presentes no filme que retrata um caso de mistério envolvendo um concierge do famoso hotel na cidade ficíticia de Zubrowka, bem parecida com a Hungria do título. O filme conta com elementos estéticos como cores vivas, elementos de cenário que parecem ter sido desenhados à mão, timing perfeito entre música e movimento dos atores que são especialmente destacados na história de assassinato e fuga envolvendo o personagem principal, o concierge Gustave H., interpretado por Ralph Fiennes, e seu fiel escudeiro, o "lobby boy" Zero (Tony Revolori). 

Seu enredo se inicia na visita de um escritor ao antigo hotel, já decadente, na década de 1960, e o encontro com Zero (com certa idade, interpretado por F. Murray Abraham), que o apresenta à história de como conheceu o Hotel Budapeste e seu concierge "mais famoso", Gustave H., que para Zero, "era o hotel".

Zero e o "jovem autor", a quem conta a História de como conheceu 
Gustave H. e do tempo saudoso do hotel

Voltando à década de 1930, com personagens ricos ainda da próspera sociedade da belle époque, o Grande Hotel Budapeste é retratado como cenário de beleza e de sonhos, se tornando ainda um reduto dos valores e costumes anteriores. Gustave H. seria o mais famoso de todos os concierges, o homem que retinha aqueles valores e que mantinha o Grande Hotel impecável e como era há décadas. O "guardião" desta memória transforma seu funcionário adolescente, Zero, em seu escudeiro e pupilo, o qual ele ensina tudo o que deveria saber para se tornar um grande funcionário como ele.

Além de Zero, se destaca na história a jovem Agatha (Saiorse Ronan), a namorada apaixonada de Zero, e uma série de personagens encantandores que perpassam o filme rapidamente e que se destacam também pelos seus perfis bem definidos e carismáticos, dentre eles a Madame D Taxis (Tilda Swinton), seu filho, Dmitri (Adrien Brody), o inspetor de polícia Henckels (Edward Norton), o colega de prisão de Gustave, Ludwig (Harvey Keitel) e o assassino Jopling, interpretado fantasticamente por Williem Dafoe. O longa ainda conta com muitas participações especiais, de atores que trabalham com Anderson há anos, como Owen Wilson e Bill Murray, e outras agradáveis surpresas, como F. Murray Abraham, Jude Law e Tom Wilkinson.

Agatha, a jovem confeiteira de Mendl's

Como juntar um elenco tão "estrelado" em uma história tão inusitada e, ao mesmo tempo, cativante? Provavelmente Anderson tem uma série de atores que gostam de sua estética, bastante original, e que confiam no seu roteiro, que dessa vez foi baseado em alguns livros e escritos deixados pelo famoso autor do início do século XX - um dos mais lidos na Europa nesta época - Stefan Zweig. Pode ter sido essa a chave do sucesso do autor, uma vez que Zweig é celebrado como um dos maiores escritores de seu tempo, também como um profundo crítico das guerras que devastaram a Europa de sua época.

A história flui maravilhosamente e as personagens e o cenário nos encantam - mesmo com a guerra se aproximando. Detalhe para o uso de um símbolo fictício do exército aliado à Hungria na Segunda Guerra, que parece a suástica nazista que na verdade não é uma suástica. Talvez no mundo fictício de Zubrowka, a suástica carregaria uma simbologia pesada demais para uma história leve como esta.

Zero e Gustave H.

Para quem quiser assistir, Grande Hotel Budapeste é um filme excelente, com uma história idílica e passada em uma época que como o próprio Zero afirma, não existia mais na década de 1930, mas que o Monsieur Gustave H. buscava manter viva no maravilhoso hotel dos Alpes que ainda vivia um tempo áureo, mesmo que de forma ilusória.