domingo, 15 de janeiro de 2017

La La Land (2016)

Assisti ontem La La Land - minha primeira experiência de cinema na Irlanda, no Irish Film Institute (IFI), no Temple Bar. Muito boa a salinha - pequena, mas lotada pra uma estreia. A fama de La La Land precedeu a sua estreia, e tentei conter qualquer tentativa minha de buscar informações sobre o filme antes de vê-lo. Decidi ver o longa no escuro, sabendo apenas que era um musical e comédia romântica, estrelado por Emma Stone e Ryan Gosling, cujos personagens são uma atriz e um pianista que sonha viver do jazz. Esse plot por si só é o principal da trama - e o único, na verdade.

La La Land inicia com uma cena dançante muito bonita e vibrante - e já mostra para que veio aí. Não quero dar uma de spoiler, mas para aqueles que desejam não saber absolutamente nada do longa, é melhor parar por aqui. A cena inicial é importante porque é ela que dá tom à trama - tanto esteticamente, quanto no estilo do filme, clima e locação. Gravada, de acordo com o diretor, num sol escaldante em julho em Los Angeles, é passada em um viaduto da cidade, com carros e figurinos dos dançarinos marcando o tom de cores que o filme usa - cores vivas, alegres e fortes, típicas de musicais das décadas de 1950 e 1960, época do "Technicolor".

Cena inicial de La La Land
Lendo um pouco mais sobre o longa, Damien Chazelle, diretor e escritor do mesmo, se refere a dois filmes especificamente como grandes homenageados esteticamente: "Cantando na Chuva" e Les parapluies de Cherbourg, que aqui no Brasil ganhou o nome de "Os guarda-chuvas do amor". Os dois filmes são da década de 1950 e 1960 (1952 e 1964), e eu só vi "Cantando na Chuva", por sinal, adoro o filme, que faz uma referência também linda ao cinema mudo de Hollywood. Como não vi "Os Guarda-chuvas...", não tem como entender muito a referência, mas pelo trailer do longa, achado na internet, as cores com certeza são o forte da sua fotografia e direção de arte, como em La La Land.

As cores e direção de arte são excelentes
Voltando ao longa, ele tem inspirações óbvias na indústria de Hollywood, e atores e atrizes que marcaram tanto a cidade homenageada, Los Angeles, espaço de dezenas de locações e à indústria de cinema, que é até hoje tão criticada, mas movimenta bilhões de dólares na economia norte-americana. O cinema hoje anda às voltas com as sombras das séries televisivas, do Netflix e dos canais on demand, os quais você não precisa sair do sofá para assistir um lindo filme em televisões de plasma com um milhão de polegadas E som surround. Tudo está ali, para o seu melhor conforto. E não dá pra não dizer que o conforto foi criado pelos próprios note-americanos, que junto com os franceses fizeram da história da sétima arte a história de suas sociedades. La La Land tenta trazer consigo o amor pelas sala de cinema, pelos grandes musicais, gênero que se espalhou pelo mundo e especialmente Bollywood - outra indústria homenageada no longa. Com certeza neste ponto Chazelle consegue fazer mais uma linda homenagem ao cinema, com todas as cores, cenários, estúdios, cenas ao ar livre, figurinos, danças e músicas, relembrando o que o cinema pode proporcionar de melhor quando bem concebido.

Cena gravada no Rialto, cinema fechado em Los Angeles que serviu de locação para o filme

O longa conta a história do casal Sebastian (Ryan Gosling) e Mia (Emma Stone), que se conhecem por acaso pelas venues de Los Angeles. Os dois são aspirantes a estrelas na cidade que recebe mais aspirantes pela fama por metro quadrado que em qualquer outro lugar do mundo. Ele, músico, e ela, atriz. O filme conta bem a história de duas pessoas "sozinhas na multidão", cheios de sonhos e que se conhecem e conseguem crescer juntos, em todos os aspectos, um dando força ao outro. O casal em si é muito bonito, muito simpático, muito "casal 20 hollywoodiano" (apesar de Gosling ser canadense, o que nos faz nos interessar mais ainda por ele :D). Interessante que uma das cenas de audição de Mia foi inspirada em fatos reais narrados por Gosling, mostrando o quanto a indústria pode ser brutal com os atores iniciantes.

O casal Emma Stone e Ryan Gosling está ótimo
O casal está muito bem, e os dois atores já tem uma certa "química", pois atuaram em dois filmes anteriores juntos (Crazy, stupid love e Gangster Squad). Juntando tudo isso à direção precisa de Chazelle, uma fotografia e um cenário lindos, e uma coreografia maravilhosa, o que brinda o filme como o melhor de tudo, na minha opinião, é uma das grandes estrelas dos musicais, óbvia mas que ninguém dá muita bola por causa das referências visuais, que são as músicas. A trilha sonora, composta pelo iniciante Justin Hurwitz, é incrível, melódica, "grudenta" e excepcionalmente bem composta. Justin é colega e amigo de Chazelle, e até então tinha composto poucas músicas para filmes e seriados, além de compor as músicas de Whiplash, na parceria prévia com Chazelle. A trilha sonora de La La Land é marcante, e dá o tom à trama. O interessante é que poucas pessoas percebem o quanto a arte sonora nos filmes é importante na montagem do mesmo - ela realmente dá tom aos longas, em qualquer situação.

Uma das cenas que reverencia Hollywood
Por final, não há como não fazer comparações de La La Land com dois filmes especificamente: Whiplash (2014), do mesmo diretor, e "O Artista" (The Artist, 2011), de Michel Hazanavicius. Whiplash para mim é a grande obra de Chazelle, talvez a que ele vai ser lembrado para sempre como seu grande filme - uma ode ao jazz (já fiz uma crítica aqui no blog, aqui vai o link:  http://femovieblog.blogspot.ie/2015/02/whiplash-em-busca-da-perfeicao-whiplash.html). "O Artista" é uma homenagem linda ao cinema, um filme mudo e em preto e branco que ganhou os corações de todos pela grande atuação de Jean Dujardin. Em termos de roteiro, acho que O Artista é um primor , e vejo La La Land como um filme com um roteiro muito mais acessível em termos de público. Porém, La La Land, pelo conjunto de uma obra que busca surpreender por todos os aspectos plásticos, é um grande filme. 

Gosling impressiona tocando piano

Vale a pena ver, afinal, La La Land, e acho difícil alguém sair da sala sem um sorriso ou uma lágrima no rosto - feliz por sinal, pois no final, Hollywood ainda nos encanta pela forma na qual até hoje se reinventa e nos traz a beleza da arte traduzida em pequenas grandes obras, como La La Land.

Aqui vai o trailer do filme: