domingo, 26 de setembro de 2010

O segredo de seus olhos (El secreto de sus ojos)



O segredo de seus olhos é um filmaço. E olha que eu não sou de elogiar filmes dessa forma. Roteiro impecável, simples, redondo, atores excelentes, história envolvente, fotografia, cenário e montagem de época super bem feitos. Tudo bem que ele ganhou um oscar (e convenhamos que hoje o oscar é mais político que qualquer outra coisa), mas o oscar de filme estrangeiro geralmente é bem merecido. Nesse caso é com certeza. Deveria tê-lo visto há muito tempo atrás e não vi. Só decidi vê-lo agora, e percebi que quase perdi um filmaço de bobeira.

Enfim, O Segredo de seus olhos é argentino e dirigido e escrito por Juan José Campanella, super conhecido no seu país e no circuito pequeno de filmes "de arte". Ele é mais conhecido também por O Filho da Noiva (El hijo de la novia), que é um filme excelente que traz Ricardo Darín e Norma Alejandro, uma atriz que é a "Fernanda Montenegro" da argentina, como protagonistas. Campanella é de fato um excelente roteirista e consegue fazer de histórias muito simples histórias muito boas, que envolvem você emocionalmente. Ultimamente, ele tem se dedicado a dirigir seriados norte-americanos, e se destacou ao dirigir House MD nas últimas duas temporadas (que eu adoro, por sinal e dá pra ver com isso também como os seriados americanos têm investimento de peso da indústria cinematográfica).

Ricardo Darín é um excelente ator, que parece que está melhorando com o passar dos anos. Neste filme, ele interpreta Benjamin Esposito, um tabelião da justiça que se aposenta e decide fazer um livro sobre o caso mais importante e que mais o marcou, vinte e cinco anos antes. Na época, ele resolveu investigar junto com seu colega de trabalho, Sandoval, o assassinato de Lilliana, uma jovem recém-casada e brutalmente estuprada e assassinada em casa. Junto com a nova juíza por quem Benjamin se apaixona, Irene Hastings (interpretada por Soledad Villamil), ele decido descobrir de todas as formas quem assassinou a jovem e junto com Sandoval, parte em busca de um suspeito, Morales, um jovem que sempre teve obsessão pela menina desde a época em que era adolescente.

O Segredo dos seus olhos se passa metade nos dias atuais e metade na década de 1970, em plena ditadura militar. Benjamin, no livro, tenta detalhar tudo aquilo da sua memória, de uma época que lhe é muito cara. Nos seus flashbacks, são introduzidos elementos, por meio da cenografia, figurino, tipo de película filmada e até mesmo pela velha máquina de escrever, cuja letra A está faltando (detalhe interessante :P), que trazem detalhes simples mas importantes de um período que Benjamin retém tanto em pensamento e em sentimentos. O assassinato da jovem o marcou muito, não só pelo caso em si, mas pelo envolvimento dele e de Irene no caso e sua aproximação com ela. Por este motivo (na verdade, desculpa) Benjamin procura Irene e juntos eles relembram o momento e os colegas que conviveram no período com eles, trazendo lembranças muito saudosas.

Na verdade, O Segredo de seus olhos é um filme investigativo, mas ao mesmo tempo muito denso e emotivo. Benjamin tem duas fixações claras no filme: os olhos da jovem assassinada e da própria Irene. Os closes estão presentes em quase todas as cenas, e os olhos fazem Benjamin desvendar o assassinato e outras questões relacionadas ao caso.

Quando li sobre o filme a primeira vez, ele havia acabado de estrear no Brasil, antes de ganhar o oscar, e já sabia que o filme prometia. Quem viu O Filho da Noiva sabe do que estou falando. Cenas densas, com poucos diálogos e extremamente expressivas. Porém, nada exagerado. O filme evolui em um ritmo que demora para você acompanhar no início, mas já no meio, você não consegue tirar os olhos da tela e no final, você não quer que o filme acabe. Me chamou a atenção as críticas dizerem que o final do filme era surpreendente. Achei estranho, conhecendo a estética e os roteiros do diretor. Na verdade, não é que não seja surpreendente (e eu não vou contar porque acho isso de jeito nenhum, vejam o filme! :P), a verdade é que o final leva ao ápice de todo o desenrolar da história.

Poderia falar aqui sobre mais detalhes do filme, mas iria perder um pouco da graça e como eu aconselho todos a verem, fico por aqui. Somente lembro de uma das cenas em que Sandoval, colega de Benjamin, fala para ele que o homem pode mudar tudo na vida, menos sua paixão. No caso, Sandoval fala da paixão pelo futebol. Na vida de Benjamin, na verdade, a paixão que ele não consegue deixar é por Irene - e nem ela por ele.

Aí está o segredo de O Segredo: aquilo que não é dito é percebido, e de forma muito sutil, ao mesmo tempo muito clara para o espectador. Porém, não espere ver um filme romântico, ou um filme de investigação, ou um drama pessoal; ele é um pouco disso tudo e muito mais que isso tudo.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Labirinto - a magia do tempo (Labyrinth)



Ah, os anos 1980...boas lembranças dessa época em que eu ainda era pequena, mas havia tantas coisas diferentes, inusitadas na televisão, no cinema, na música...e ainda havia David Bowie, que aparecia nos três meios de forma tão natural...

Labirinto, cujo nome em português ganhou aquele "adicional" comum nas traduções brasileiras (sério, porque não só Labirinto?) é um clássico dos anos 1980 e que todos as pessoas da minha geração (repito, todas!) devem ter visto, se não no cinema, na sessão da tarde da Globo (que inclusive não passa mais nenhum filme dos anos 1980, só comédias bobas dos anos 2000...infelizmente. Também não vejo mais... :D) Labirinto está no imaginário da minha geração e assisti-lo novamente foi uma nostalgia total. É claro que quando você assiste um filme desses com dez anos, você imagina que ele é tão legal, fantasioso, divertido, com bichinhos tão engraçados, que não percebe o lado mais "dark" do roteiro de Jim Henson, que também dirigiu o filme, e criou os fantoches de diversos bichos e monstros que aparecem, principalmente aquele "Bando maluco" que fica tirando as cabeças e atirando para todos os lados...(como é que eu não chorava nessa cena???)

Labirinto, para quem não é da minha geração, conta a história de Sarah, uma jovem de quinze anos que vive em um mundo de fantasias criado por ela para se desligar dos aborrecimentos de casa - o casamento de seu pai e o nascimento do meio-irmão, mais especificamente. Diferente de muitas jovens, Sarah vive no seu mundo isolado, onde os livros de magia e fantasia e a criação de personagens são lugar-comum. Porém, numa noite chuvosa, Sarah é obrigada a tomar conta de seu irmão pequeno quando seu pai e madrasta saem de casa, e revoltada com a situação, ela pede para que duendes sumam com ele. Tão cruel...seu pedido é prontamente atendido pelo rei dos duendes, Jareth (sim, Bowie!), e quando Sarah percebe o sumiço do seu irmão, se desespera (acho que mais por achar que os pais vão matar ela do que por achar que vai perder o irmãozinho...) e Jareth dá a ela uma única opção: atravessar o labirinto que leva ao seu castelo numa terra de fantasia (não, não é Fantasia, de História sem fim. Quem é da geração anos 1980 sacou também ;))em um período de 13 horas senão ela nunca mais verá ele.

Bom, até aí, você pensa: poxa, que filme com lição de moral, né, ela tem que amar o irmão, e por causa disso, mesmo rejeitando-o, ela faz das tripas coração para pegá-lo com o rei dos duendes. Será que hoje os adolescentes fariam isso também? :D boa pergunta. Vou deixar em aberto.

A trajetória de Sarah no labirinto é marcada pelo encontro com animais fantasiosos, minhocas falantes, pântano fedorento, um cachorro espadachim...é, por aí vai. Mas tudo muito divertido, pois faz parte do mundo fantasioso de Sarah. No caminho, ela faz também boas amizades, descobre que o rei dos duendes tem uma "queda" por ela, daí fazer ela sofrer (sério, obscura essa parte), e descobre que é mais inteligente e tem mais valor do que achava que tinha. Conflitos adolescentes! Quem imaginava essa temática...

Bom, aqui vão as partes interessantes do filme, que eu não posso deixar de relatar (sério, se você não viu Labirinto, veja!! É um clássico, não vou poupar comentários. Se você tem a minha idade e não viu, se mate).

David Bowie é sempre um prazer, não é? Com aquela peruca espetada e roupas um tanto quando parecidas com o Pequeno Príncipe, ele está ótimo como O Príncipe dos Duendes. Deixando claro que eu adoro ele, mas os anos 1980...enfim. Porém, vou concordar com o colega blogueiro Guilherme (excelente crítica:http://filmesdocaralho.blogspot.com/2008/07/labirinto-magia-do-tempo.html) quando ele coloca que Magic Dance é meio creepy, principalmente na parte em que ele fala que o bebê tem o poder do vudu. Como ninguém nunca percebeu isso? Bowie faz toda a trilha sonora do filme, que é muito legal, aliás, e está sensacional no papel do rei dos Duendes.

Abrindo parênteses (coisa que sempre faço...sorry): queria que trilhas sonoras hoje fossem assim também, feitas especificamente por uma banda ou cantor para o filme, diferente das inserções de músicas feitas pelos produtores das trilhas, e com um baita fundo comercial.

Outro ponto importante: Jareth/Bowie mostra ter uma "quedinha" por Sarah, quando tenta drogá-la (é, ela fica chapada) e a leva a uma bolha de sabão para dançar com ele vestida de princesa dos duendes, tocando "As the world falls down", e chocantemente mostrando que na verdade, ele a faz sofrer porque aaaaaaama ela (As the pain sweeps through/Makes no sense for you/Every thrill has gone/Wasn't too much fun at all/But I'll be there for you-oo-oo/As the world falls down/Falling(As the world)/ Falling down/Falling in love). Aí você imagina, Bowie com uma menina de quinze anos?? Hummmm...

Labirinto é, sem dúvida, um filme de fantasia que por mais que achemos esquisito pelos efeitos especiais atuais, tem um bom roteiro, um bom desenvolvimento e cenas muito bem pensadas (como a cena em que Sarah cai num labirinto de mãos, ou a cena final em que ela tenta pegar seu irmão em um labirinto de escadas que se invertem). Os bonecos e a produção do filme são super bem elaborados, e é claro, parecem mesmo os Muppets (Henson criou os bonecos dos Muppets e Vila Sésamo, daí a semelhança) e Jennifer Connely está linda e fofa no papel. Quem não viu (talk to my hand...)ou não reviu o filme nos últimos dez anos, veja e reveja! Vale a pena.

domingo, 5 de setembro de 2010

Quando me apaixono (Then she found me)



O filme Quando me apaixono tem um nome bobinho em português e faz muito mais sentido quando pegamos o título original, Then she found me (e então ela me encontrou). Dirigido e estrelado por Helen Hunt, ele chegou aos cinemas também atrasado no Brasil, somente três anos (e meio!) após estrear nos Estados Unidos. O que é uma pena, pois o filme estreou em um circuito reduzido e é muito interessante e bem feito - deveria ter estreado em grande circuito. Mas eu já ando perdendo as esperanças no cinema de qualidade por aqui, pois só vejo estrear filmes de ação e comédias bobas no grande circuito e raramente algo de mais substância nessas salas.

Then she found me conta a história de April Epner, uma professora de 39 anos que se casa com essa idade e deseja mais que nunca ter um filho biológico. Apesar de ter sido adotada por uma família que lhe ofereceu tudo em toda a sua vida, April tem praticamente uma obsessão em ter um filho biológico. O problema é que seu casamento não anda muito bem, e ela acaba passando por um momento de crise onde conhece duas pessoas que se tornam muito importantes em sua vida: sua mãe biológica e um novo amor.

O papel da mãe é interpretado por Bette Midler. Aqui ela faz uma apresentadora de talk show, Bernice Graves (não judia, apesar da religiosidade ser um ponto fonte discutido na trama, pois April é judia e bastante religiosa)que depois de quarenta anos quer ter a filha de volta ao seu lado, e faz de tudo para recompensar sua ausência. O marido de April, interpretado por Matthew Broderick, é também um professor, frustrado (novidade...:D) que ainda não sabe o que quer da vida, e não consegue tomar mínimas decisões sobre ela - muito mais com outra pessoa. O terceiro elemento do triângulo amoroso é Frank, interpretado por Colin Firth, que não importa o papel que faça, sempre está ótimo. Ele é um pai solteiro sensível e inseguro que se apaixona pela professora de seu filho e luta por ela apesar de toda a sua insegurança.

O filme é um drama que se desenvolve de forma muito agradável e muito delicada também. Ele lembra os filmes de Allen e é claro que se passa em Nova York, com muitas externas rodadas no Hudson e nas ruas de Manhattan, com seus dias cinzentos e chuvosos.

April na verdade aparece na trama como uma mulher que deseja ter todos os seus sonhos realizados e começa a trama pensando os ter realizado - casando-se com seu melhor amigo e tentando engravidar. Porém, seu destino muda rapidamente e de repente ela se vê sozinha, sem pais, sem filhos e acaba conhecendo ela, a do título, sua mãe biológica, que propõe um novo relacionamento complicado, mas que proporciona uma redescoberta dela mesma.

Baseado no livro homônimo de Elinor Lipman, Helen Hunt encontrou muitas dificuldades para levar o romance às telas. Após anos procurando roteiristas e produtoras, ela mesmo co-produziu a história, dirigiu e interpretou April, personagem principal da trama.

O filme talvez tenha de positivo a delicadeza na dosagem de Hunt como atriz e como diretora, além de contar com um bom elenco que conduz bem a trama, em especial Firth e Midler, que estão ótimos em seus papéis.

Entretanto, o filme tem uma narrativa muito lenta e é bem dramático, o que pode levar alguns espectadores a se cansarem. seu título em português e o poster de propaganda não tem relação nenhuma com a trama, o que mostra mais uma vez a mancada das distribuidoras brasileiras que tentam vender uma coisa que ele realmente não é. E eu acho que o espectador se sentirá ultrajado se esperar ver uma comédia romântica e encontrar um drama com temas profundos como maternidade, traição, rejeição, entre outros.

Ele é centrado também na redescoberta de April sobre sua vida e suas prioridades, e isso é passado de forma um pouco superficial em parte do filme (principalmente quando ela fica em dúvidas em relação em continuar com o novo namorado ou voltar para o ex-marido. Poderia ter sido melhor trabalhado esse lado, assim como a participação de Broderick é ínfima no filme).

Then she found me traz, entretanto, aquele gostinho de filme independente que trata de temáticas diversas e principalmente sobre as relações humanas, e não um trama mirabolante, um roteiro intricado e atores maquiados e modelados para o papel, ao que vejo no cinema atual (sei que nos festivais de cinema e no circuito pequeno ainda há luz no fim do túnel, mas moro em Niterói, que só tem salas em dois shoppings. Aqui a situação é complicada, por isso quando dá escapo para as salas em Botafogo e centro do Rio). É um filme emotivo, sim, e talvez as mulheres se sensibilizem mais com sua temática, mas mesmo assim não deixa de refletir sobre assuntos interessantes para todos os públicos, principalmente, que não há uma fórmula para a felicidade.