domingo, 21 de fevereiro de 2016

A Garota Dinamarquesa (The Danish Girl, 2015)

Dirigido por Tom Hooper, mesmo diretor de O Discurso do Rei, o longa A Garota Dinamarquesa lança um olhar sobre Einar Wegener/Lily Elbe, conhecido pintor dinamarquês que passa por uma transição de gênero, e sua esposa, a também pintora Gerda Wegener, mostrando a história de transformação dele e de amor entre os dois.
Eddie Redmayne como Einar/Lily Elber
O filme estreou como uma sensação no cinema por abordar, principalmente, a transformação de Einar em transgênero na década de 1920. Com a biografia do pintor em mãos, o longa se inspira na sua história, e acaba se tornando não uma biografia histórica, mas uma história de autodescoberta e de amor, que transforma a relação do casal.
A Garota Dinamarquesa impressiona desde o início - um elenco jovem, porém bem escolhido, que mostra um pouco das transformações da juventude nos anos 1920, época do jazz, do ragtime e da revolução nos costumes femininos, comuns em toda a Europa. O relacionamento do casal de pintores desde o início chama atenção: cumplicidade é a palavra chave. O longa vai, entretanto, delineando uma nova realidade com a necessidade de Einar de mudar radicalmente a forma como se via no mundo, porém mantendo a mesma cumplicidade com a esposa que tinha no início. A relação muda e não muda ao mesmo tempo. O amor romântico abre espaço para um amor diferente. Esta é para mim o fio condutor da trama, que conta, na verdade, a história da garota dinamarquesa do título, interpretada por Eddie Redmayne, e sua esposa, interpretada por Alicia Vikander, atriz sueca.
Alicia Vikander e Eddie Redmayne como o casal Lily Elber e Gerda Wegener

Diga-se de passagem, impressiona a atuação de Eddie Redmanyne como Einar e Lily, uma transformação detalhada para o espectador. Um dos grandes trunfos do roteiro é mostrar essa transformação em todos os seus passos. Redmayne transforma delicadamente seu personagem, e quando percebemos, já é Lily. De fato me impressionei com a interpretação, e creio que talvez consiga o seu segundo oscar em seu segundo papel de destaque no cinema, o que é impressionante. Como sabemos que Leonardo DiCaprio historicamente é preterido pela academia, não me espantaria se a estatueta fosse para Redmayne.
A atuaçào de Redmayne impressiona pelas nuances e dificuldade de seu personagem
Em contrapartida, Alicia Vikander não deixa a desejar. A atriz está excelente no papel, e desconhecida do grande público, impressiona pela força de atuação, em um papel dramático e difícil.
Chamo atenção ainda para a direção de arte, fotografia do filme e a trilha sonora. O longa é lindo, considerado particularmente como "um filme artístico" devido à fotografia e direção de arte dele ser exuberante, mesmo mostrando uma dinamarca fria e chuvosa. Não faço spoiler, mas posso dizer que a cena final é de uma beleza impressionante, o que me faz lembrar que Hooper também dirigiu o musical Os Miseráveis, longa que demorei a ver mas fiz crítica aqui no blog, um dos filmes mais bonitos que já vi.
Gerda pintando Lily, sua inspiração
A Garota Dinamarquesa recebeu muitas críticas devido à adaptação do livro do escritor norte-americano David Ebershoff, e por não contar a verdadeira história do casal. O longa, na verdade, é inspirado na história do pintor. Caso contrário, realmente não há como dizer que o filme seria bem recebido, pois as mudanças biográficas foram muitas no romance e na adaptação para o cinema.
Acredito que o filme seja relevante pois traz uma discussão atual, assim como Carol, sobre a liberdade da escolha de gênero e mostra, com muito cuidado e delicadeza, o drama de Einar/Lily, em uma época em que era sua mudança de gênero trazia ainda muito preconceito. Infelizmente, nos deparamos com uma realidade atual que nos faz ver que o preconceito ainda persiste. Por isso, se torna mais que importante o lançamento de filmes que reforcem a liberdade de escolha individual.

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