sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

Carol (2015)

O filme Carol estreou como uma das grandes sensações do cinema de 2015. O filme foi ainda indicado ao Oscar em seis categorias. Sendo um drama ambientado na década de 1950, me indaguei sobre o que faz com que Carol seja um drama que, em geral passaria escondido pelo grande público, ser tão badalado?
O longa lança mão de uma realidade feminina na década de 1950 - preconceito em relação à casais homossexuais - para relatar o drama de duas mulheres que se apaixonam mas não podem ficar juntas, por questões legais, por pressões de ex-marido, ou pela sociedade não aceitar que uma mulher divorciada crie uma criança com outra mulher.
Cartaz do filme Carol
O tema ligado ao universo feminino está em alta ultimamente, o que é fantástico ao percebermos os movimentos coletivos femininos, na internet, nas ruas e na circulação de notícias por pessoas que entendem e enxergam que a mulher é, sim, historicamente, alvo de muito preconceito. Neste sentido, Carol, interpretada por Cate Blanchett, é uma mulher linda, inteligente, bem articulada, amorosa com a filha, que tem um "pecado": ser gay. E entender que, em uma época tão próxima à gente, essa condição era motivo para perder a guarda de crianças e considerada distúrbio psiquiátrico.
Dirigido por Todd Haynes, que descobri que é autor de Mildred Pierce, série premiada da HBO que relata a história de superação de uma dona de casa que se divorcia do marido no mesmo período do filme Carol, o longa tem um ritmo lento e uma fotografia belíssima. Explora não somente a vida da personagem título, mas também da mulher de quem se apaixona, contando, na verdade, a história das duas a partir da realidade de Therese (Rooney Mara), a balconista da loja de departamentos que se torna companheira dela.
Carol e Therese se conhecendo
O longa é ainda muito bonito por contar uma história de romance de forma delicada e realista. Imaginando como deveria ser na década de 1950 duas mulheres namorarem, fico pensando que era exatamente assim - sendo consideradas amigas, viajando juntas, sendo paqueradas em bares...é, até hoje me parece que isso é uma realidade. Mulheres que andam de mãos dadas são apontadas na rua, beijos na rua são motivo de piadas masculinas...é uma realidade dura, mas uma realidade.
O que quero dizer é que Carol, no alto de sua fotografia belíssima, atuações principais comedidas e excelentes, sua caracterização de época muito bem feita, é um drama que pode não concorrer a um prêmio principal ao Oscar, mas com certeza é um dos filmes mais bonitos feitos em 2015.
Ressalto, ainda, que Rooney Mara, creio que propositalmente, está a cara de Audrey Hepburn em Sabrina, de 1954, longa em que a atriz faz o papel da filha do motorista de uma família endinheirada, cujos filhos se apaixonam, e Ann, personagem de Hepburn em A Princesa e o Plebeu, de 1953. Acredito que, de forma intencional ou não intencional, o romance entre Carol e Therese se assemelha também aos longas, mas ao invés do casal tradicional masculino-feminino, são duas mulheres que se apaixonam.
Cate Blanchett fantástica no papel, como sempre
Posso dizer que achei Carol um longa bonito e muito interessante, e creio que faz jus à todas as indicações a que concorre. É, ainda, relevante, pois por mais que os tempos tenham mudado, a nossa sociedade está longe de conviver em harmonia e paz com as escolhas pessoais e orientações de gênero dos outros. Compreender o outro é sempre importante para entendermos que a luta por direitos e tratamentos iguais é uma luta sofrida, diária, histórica e permanente.

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