quarta-feira, 26 de maio de 2010

Onde vivem os monstros (Where the wild things are)



Relutava em ver esse filme, porém hoje tentava descansar pois estava com a cabeça muito cheia e resolvi assisti-lo. Onde vivem os monstros é um filme bonito e melancólico. É claro que eu esperava algo parecido quando o peguei para assistir pois sabia que tinha sido escrito e dirigido por Spike Jonze, o mesmo diretor de Adaptação e de Brilho eterno de uma mente sem lembranças (e amigo de Charlie Kauffman, que fez os roteiros incríveis - e que eu adoro - desses filmes).

Onde vivem os monstros conta a história de Max, um menino que vive sozinho e angustiado por não ter a atenção da família, uma mãe que trabalha demais e uma irmã adolescente. Ele se revolta de todas as formas possíveis e chega ao ponto de brigar fisicamente com a mãe para chamar a atenção dela e do namorado dela. Revoltado, Max foge de casa e chega a uma praia, e após navegar em um pequeno barco a vela sem rumo, ele encontra uma terra fantástica, onde vivem os tais monstros de sua imaginação. Monstros que para ele são de verdade, são os amigos dele (inspirados em seus bichos de pelúcia que também representam ele em seus mais fortes sentimentos).

O filme foi baseado em um livro infantil de Maurice Sendak, que é bem prolixo e com diversas ilustrações. Jonze vai além do livro, criando um universo angustiante de uma criança que, é claro, é egocêntrica e se sente sozinha, tão sozinha que começa a conviver com monstros imaginários ao invés de seus parentes e de amigos. Os monstros vivem um relacionamento conturbado entre eles e quando Max os encontra, é proclamado rei em sua terra, é valorizando, tem toda a atenção do mundo, fazendo suas vontades. Porém, eles também esperam que Max solucione os problemas de seu "reino", principalmente Carol, que faz amizade rápida com Max por vê-lo como uma pessoa que irá unir todos eles (e justamento representa o alter-ego principal da criança).

A questão é que os problemas que existem em sua terra são os mesmos problemas que existem no cotidiano de Max - solidão, ciúmes, excesso de raiva, falta de diálogo. E Max aos poucos vai descobrindo que os sentimentos que os monstros têm um pelo outro são os mesmos que o fazem sofrer em sua casa, porém, ao entrar em contato tão profundo com esses seres, Max começa a entender que os conflitos humanos existem e são naturais, como são também aos monstros.

Acredito que o livro em questão, que eu não li, passe uma mensagem positiva para as crianças que vivem momentos complicados e acreditam ser incompreendidas pelos pais ausentes. No filme de Jonze, o livro é modificado e o roteiro segue uma linha muito mais próxima a uma linguagem adulta do que infantil. Não é para crianças verem e sim para os adultos que já foram crianças e já viveram ou vivem conflitos pessoais com família e amigos.

Por mais bonita que a estética seja, com cenários fantásticos que incluem deserto e praia, floresta e montanha numa mesma terra imaginária (e uma fotografia igualmente bonita) e a customização dos monstros tenha sido muito bem feita (eles são monstros fofos demais, dá vontade de colocar um bichinho de pelúcia deles encima da cama :D), o filme passa um ar melancólico e pesado, mostrando que mesmo na infância lidamos com questões do universo adulto. Para a criança, o centro das atenções é ela própria e mesmo que nós adultos também agimos assim, Jonze mostra que muitas vezes aquilo que você acha que pode consertar ou melhorar em um relacionamento muitas vezes não é possível, pois não depende só de nós.

Para finalizar, a trilha sonora do filme é bem interessante e acabei descobrindo ao pesquisar sobre ela que foi feita por Karen O., vocalista do Yeah Yeah Yeahs e ex-namorada de Jonze. vale a pena conferir:

http://www.lastfm.com.br/music/Karen+O+and+the+Kids

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