segunda-feira, 28 de junho de 2010

O Contador de Histórias




Sei que prometi a crítica de Bonequinha de Luxo. Mas acabei alugando dois filmes esse fim de semana brasileiros, porque...estava com vontade. Queria ver o Linha de Passe há muito tempo, e ouvi falar do Contador de Histórias.Ainda farei a crítica de Bonequinha, mas a promessa era relatar todos os filmes que vi. Então vamos lá.

O Contador de Histórias é baseado num relato verdadeiro de Roberto Carlos Ramos (cuja história eu já conhecia, uma professora conhecida levou um vídeo dele para a escola certo dia), que de menino de rua em Belo Horizonte se tornou um pedagogo e contador de histórias, reconhecido no mundo todo. O filme se baseia na relação entre Roberto e Marguerite, pedagoga francesa que vem ao Brasil estudar as condições dos meninos de rua na década de 1970. Na Febem em Belo Horizonte encontra Roberto Carlos, de treze anos, considerado pela direção da instituição um menino "irrecuperável". Fugiu mais de cem vezes,fumava, cheirava, roubava na rua e não obedecia ninguém. Era mais um menor para entrar na estatística.

Marguerite se interessa pelo menino - e pelas causas que o levariam a se tornar um menino de rua. Insiste em entrevistá-lo e logo no primeiro encontro, Roberto Carlos conta uma história absurda e imaginativa sobre como foi parar na Febem. Marguerite se interessa mais. Quando volta para vê-lo, ele já tinha fugido da instituição novamente. E novamente Marguerite vai procurá-lo nas ruas.

Após encontrá-lo, Marguerite o convence a dar mais entrevistas, acolhendo-o em sua casa. No início, Roberto Carlos se aproveita e tenta roubar-lhe. Porém, após mais um período duro nas ruas, onde quase morre, ele decide voltar a vê-la. E assim os dois começam a conviver e aprender a gostar um do outro.

O filme todo se baseia na relação entre os dois - logo a primeira cena prenuncia isso. Roberto Carlos, por sua vez, é visto como uma criança que por consequência do destino, acaba sendo levada a fazer coisas erradas. Isso fica bem claro no filme. Afinal, como Marguerite coloca para a diretora da Febem, ela sabia que uma criança de treze anos não poderia ser considerada irrecuperável. Marguerite é a "princesa no cavalo branco". Ela surge do nada na vida do menino e resolver dar um jeito nela, pois acredita no seu potencial. Como a diretora também afirma no filme, ele teve "sorte" por encontrá-la. Apenas uma em mil teria essa sorte de ser adotada por uma pessoa como ela.

O filme é recheado de cenas tristes e que mostram o cotidiano dos meninos de rua. Crianças esquecidas, de fato, pelo governo, pelas instituições que cuidam de menores infratores e outras tantas que cuidam de órfãos e crianças abandonadas, que muitas vezes mais deseducam do que cumprem seu papel. Ensinam pelo menos os menores a se virarem. Seja pela lei do mais forte, seja pela malandragem. Isso também fica claro em O Contador de Histórias. porém, ao mesmo tempo em que o filme mostra a realidade dura dessas crianças, Roberto Carlos também deixa claro que sabia o que estava fazendo e tinha consciência dos seus atos. Mas não ligava mais para nada.

Uma cena que me chamou atenção foi quando Roberto Carlos conta a verdadeira história de como foi parar na Febem. Diferente da história inicial, em que inventa um fabuloso assalta a banco com seus nove irmãos e sua mãe e é deixado para trás, ele conta que sua mãe, ao ver a propaganda da Febem na única televisão na comunidade onde morava, acredita que ali seria um lugar onde o filho mais novo teria educação, assistência de saúde, refeições completas, uma vida melhor. E acaba entregando o filho a uma instituição que como é colocado no filme, já começou errada.

Uma das críticas que faço ao Contador de Histórias é em relação às cenas fantasiosas da imaginação de Roberto Carlos. Parecem um tanto quanto fora de contexto. Outra é sobre o andamento do filme, um pouco arrastado pro meu gosto, são mais de duas horas e no meio, você já fica cansado de assisti-lo. No início, o filme parece ser bem lento e no final, parece que as cenas são contadas de forma muito rápida.

O filme tem uma atuação ótima de Maria de Medeiros, famosa atriz portuguesa, no papel de Marguerite, e vê-se que foi feito um bom trabalho de interpretação com as crianças. A história de Roberto Carlos é uma história bonita, uma história cheia de histórias, porém, acabamos chegando à conclusão que ele foi realmente uma excessão à regra. E geralmente dessa excessões se constroem belos filmes - porém, que não correspondem muito com a realidade da maioria da população.

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