domingo, 13 de junho de 2010

Cinderela em Paris (Funny Face)




Esta semana será dedicada a Audrey Hepburn e Truman Capote, atriz e escritor de Bonequinha de Luxo, um clássico dirigido por Blake Edwards em 1961. Como passei uma semana muito cansativa e de certa forma frustrante, decidi que veria alguns filmes dela (que eu adoro) e acabei alugando também Capote para finalizar (aguardem as críticas de Capote e Bonequinha de Luxo, não deu tempo de ver e rever ainda).

Neste fim de semana assisti Cinderela em Paris (Funny Face), que acredito que fez muito sucesso por incorporar três gêneros que estavam em voga na década de 1950 (comédia, romance e musical), além de inovar trazendo a moda e o glamour parisiense para Hollywood, com o figurino belíssimo desenhado por Givenchy e que fez bastante sucesso na época.

Cinderela em Paris é um filme para entreter, e surgiu na época em que as mulheres estavam ganhando um papel maior na sociedade trabalhadora norte-americana. A personagem de Audrey, Jo Stocktohn, é uma simples e sem graça livreira em Nova York e como sem querer, "esbarra" no fotógrafo Dick Avery (interpretado pelo incrível Fred Astaire), que a lança ao estrelato ao apresentá-la a editora-chefe da revista Quality, a maior revista feminina na época. A editora procura justamente um novo rosto para a revista, um modelo de mulher diferente, e Dick enxerga em Jo as qualidades dessa mulher: intelectualizada, com o rosto diferente para os padrões da época (daí o nome Funny Face) e com opinião. No meio da história, os dois começam a se apaixonar.

Envolvido por músicas e coreografias belíssimas de Astaire e Hepburn, o filme tem um visual bonito, uma história que agrada todas as mulheres que se sentem de fora dos padrões de beleza e ainda tem uma nova estrela de Hollywood, Audrey, atriz belga que começava a calcar uma carreira de sucesso nos Estados Unidos na década de 1950 (o filme é de 1957, ela já havia feito Sabrina em 1954, mas os estúdios ainda apostavam em loiras platinadas como Marilyn Monroe e Grace Kelly para os papéis de mocinha).

O que me encanta em Audrey Hepburn, além de seu estilo totalmente único, e que acabou virando padrão de beleza é a sua sutileza nas interpretações e ela buscar papéis que inovassem. o filme Cinderela em Paris não era uma novidade. Mas partiu de Audrey a ideia de trazer às telas os vestidos de Givenchy (que acabou se tornando amigo dela), incorporando aos filmes na década de 1950 e 1960 o glamour das passarelas e da sofisticação da moda.

Sou fã incondicional de Fred Astaire e adoro musicais (bom, minha irmã costuma dizer que não há graça em ver um filme em que de repente, de forma artificial, as pessoas começam a cantar e dançar, mas eu gosto de musicais justamente porque nos fazem sonhar, nos remetem a um mundo de beleza, onde todos se unem em torno de algo em comum na cena). O que me encanta em Astaire não é sua atuação como Avery (que por sinal deveria ser um papel de um ator mais jovem, Astaire já tinha quase sessenta anos quando da filmagem de Cinderela), mas o magnetismo que ele gera por sua dança. É impossível ver Astaire dançando (e o exemplo perfeito disso é o filme Top Hat, com Ginger Rogers) e não se impressionar com sua leveza e agilidade. Talvez por isso tenha sido o par perfeito para Audrey, que também encantava pela sua fragilidade e feminilidade, em um período onde a luta pela emancipação feminina nos Estados Unidos estava se tornando muito forte.

Minha crítica ao filme é que ele reafirma alguns estereótipos femininos, como também ocorre em My Fair Lady, que já é de 1965, colocando a mulher como frágil, apaixonada e submissa em certos pontos. Jo tenta "quebrar" essa imagem feminina ao chegar a Paris mostrando que tinha personalidade e se "enfurnando" no pequeno café em Pigalle, bairro boêmio e frequentado por intelectuais. Em um verdadeiro estilo beatnik, Audrey aparece com as famosas calças pretas e blusa de gola rolê preta, cabelos presos, discutindo filosofia, dançando jazz e bebendo vinho. Porém, termina o filme vestida de noiva e declarando a Dick que o verdadeiro motivo de ir a Paris não era encontrar o professor de filosofia que tanto desejava, mas sim ficar perto do amado.

O filme também mostra Paris em seus vários cenários turísticos, numa clara "propaganda" para americanos conheceram a cidade luz. Cantando e dançando alegremente pela cidade, Jo, Dick e Mary Prescott, editora chefe da revista Quality (a excelente Kay Thompson, que incorpora a decidida editora que se torna uma verdadeira lançadora de estilo para as mulheres americanas - qualquer semelhança com a Miranda Priestly em O Diabo veste Prada NÃO é mera coincidência) mostram as maravilhas existentes na cidade luz, e fazem uma apologia à visita dos americanos à cidade. Porém, o filme se limita aos estereótipos de parisienses, que aparecem como pessoas cheias de personalidade e paixão, diferente dos americanos controlados (sério, já vi isso antes e em muuuitos filmes...)

Porém, Cinderela é exatamente aquilo a que se propõe: um musical, com coreografia de Fred Astaire, com belas apresentações de música de Astaire e Audrey, lindo cenário e lindas roupas, lançando uma nova tendência de beleza feminina, incorporada na figura esguia de Audrey e nos belos e arrojados vestidos feitos por Givenchy, terminando com um lindo final feliz. Bom, acho que vale a pena assistir e se divertir com o filme, que mais que entretenimento, nos remete a uma época em que as pessoas iam ao cinema para se libertar de algumas agruras do cotidiano (para quem quer ver um filme crítico em relação aos filmes românticos de Hollywood, veja A Rosa Púrpura do Cairo, lindo filme de Woody Allen sobre o assunto).

Para terminar, deixarei o link do vídeo de Astaire e Ginger Rogers dançando em Top Hat (em português, O Picolino) - quem não viu, veja o filme. Quem já viu À espera de um milagre vai se lembrar da cena. De fato, belíssima coreografia e música. Inesquecível:

http://www.youtube.com/watch?v=HYHZh-xnqhE

Um comentário:

  1. Os clássicos dos anos 50 e 60 são maravilhosos, mesmo que água com açúcar. Eu também adoro Audrey Hepburn. Seu comentário está ótimo, principalmente porque relaciona sempre com remakes ou filmes similares. E faz nossa imaginação e lembranças irem longe...

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