sexta-feira, 25 de junho de 2010

Capote (Capote)




Ontem cheguei em casa - extremamente cansada, como sempre - e consegui arranjar um tempo para ver um filme, coisa que tem sido difícil. Tinha comentado há duas semanas que iria postar minhas críticas de Capote e Bonequinha de Luxo, e vou manter minha promessa. Começando por Capote.

Capote conta a história de como Truman Capote escreveu seu livro À Sangue Frio (In cold blood), onde ele relata o assassinato de uma família no interior do estado do Kansas, baseando seu relato numa história verídica. Capote, que escreve para a revista The New Yorker, já famoso pelo sucesso de Bonequinha de Luxo e conhecido no mainstream de Hollywood, decide viajar até a pequena cidade de Holcomb com sua amiga de infância, Harper Lee (sim, ela mesma, de To Kill a Mockingbird), para investigar o assassinato daquelas pessoas. Ao chegar na cidade bucólica, como ele mesmo coloca em seu livro, com seus trigais e aquele silêncio de fim de tarde, Capote se torna amigo do xerife local e sua esposa e consegue informações exclusivas do assassinato, até mesmo entrevista com os assassinos. A partir do contato dele com um dos assassinos, Perry Lewis, ele começa a desenvolver sua história (na ficção) e também a desenvolver uma relação muito próxima com o preso na vida real.

A relação de Capote e Lewis se torna intensa, pois o assassino vê em Capote a esperança para conseguir reverter a sentença de morte e Capote vê em Lewis uma história incrível, que daria, de acordo com ele, um dos melhores livros que já existiu. Criando um gênero novo, o de "romance de não-ficção", Capote decide que a sua história é Perry e os motivos que o levaram a assassinar aquela família eram muito mais profundos do que simples maldade. Dedicando quatro anos de sua vida a esse romance, Capote estabeleceu ao mesmo tempo um sentimento de compaixão com o preso e de paixão pelo seu livro, o que o faz parecer bastante maniqueísta e frio. Ao mesmo tempo em que sente pena e consegue adiar a pena de morte do preso, ele precisa dele vivo para terminar seu livro. E assim, durante o filme, percebe-se que ele estabelece uma relação ora de distanciamento com seu "objeto" retratado, ora de aproximação.

O filme trata da vida de Capote e da personalidade dele a partir de um ponto específico de sua história, quando escreveu seu grande best-seller, e uma das obras mais importantes da literatura norte-americana. Pode-se dizer que Phillip Seymour Hoffman, que produz o filme e interpreta o papel principal, está perfeito no papel título do filme. Capote tinha sido uma criança abandonada, criada no sul dos Estados Unidos por uma mãe ausente e depois por tias (na mesma cidade de Harper), quando começou a desenvolver uma série de problemas afetivos. Sua carreira decolou ao escrever roteiros que começaram a fazer grande sucesso em Hollywood, na década de 1950.

Algumas passagens de sua vida são descritas pela personagem durante o filme (nos momentos em que Capote, propositalmente, ao meu ver, estabelece uma proximidade com o preso mostrando que ele também fora abandonado, era sozinho, excluído e discriminado por ser gay). Outro momento que me chamou a atenção é sua relação com Harper, que, escritora como ele, mas não de sucesso até então, o acompanhava em suas "empreitadas", mas no momento em que ela consegue ser reconhecida pelo meio literário com seu livro To Kill a Mockingbird e posteriormente pelo sucesso do filme (leia a crítica abaixo!), que foi feito, diga-se de passagem, antes de Bonequinha de Luxo, é menosprezada por Capote. O reconhecimento e talvez a baixa auto-estima fizeram Capote necessitar sempre atenção - o que o filme também mostra com brilhantismo. Ele era sempre a alma da festa.

Para finalizar, acho que algo que me chamou atenção também no filme é que, mais que um retrato de Truman Capote, ele faz uma crítica sobre a pena de morte, me lembrando muito "Os últimos passos de um homem". Assassino confesso, Perry tem todos os motivos para receber a pena de morte: matou à tiros à sangue-frio quatro pessoas de uma família por um motivo fútil (assalto), mas mostrou-se arrependido. Seu histórico, filho de mãe índia, crescendo em um meio de exclusão, sendo maltratado e esquecido pela mãe que era alcoólatra, vivendo uma vida errante, faz com que o espectador se comova com sua história. Mas, como Capote diz de forma magistral em uma cena no filme: "Perry se parece comigo, mas parece que eu saí pela porta da frente e ele escolheu sair pela porta de trás".

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