segunda-feira, 28 de junho de 2010

Linha de Passe



Completando o fim de semana com mais um "choque de realidade" (após ter visto O Contador de Histórias), deixei para o final Linha de Passe. Não estava enganada. Enquanto o Contador conta a história de uma excessão, Linha de Passe conta a história da maioria, da realidade brutal do dia-a-dia de uma família pobre que vive em São Paulo.

O que me chamou a atenção em ver esse filme pode ter sido, talvez, as críticas positivas quando do seu lançamento (que foi em 2008, como o tempo passa); Sandra Corveloni, a atriz principal, ter ganhado o prêmio de melhor atriz em Cannes (o que alçou o filme a mais salas de cinema na época, pois até então, pouca gente ouvia falar nele)e também a história simples,sobre o cotidiano de uma família de baixa renda em São Paulo. Uma mãe, quatro filhos e mais um para vir, empregada doméstica, com um filho tentando ser um jogador de futebol profissional, outro frentista e outro motoboy. Família que existe em todas as grandes cidades do país. E é partir daí que Walter Salles constrói sua narrativa.

O filme impressiona pelo realismo. Para começar, não há atores e atrizes no filme que pareçam ser atores lindos e globais. Todos tem o rosto enbrutecido, e como a maioria da população brasileira, cansado, devido à dura realidade de trabalho e falta de perspectiva.

As expectativas da família se fazem presente no filho jogador de futebol, Dario (que eu pasmei em saber que é o mesmo menino de Central do Brasil, Vinícius de Oliveira. O trabalho de caracterização, maquiagem e indumentária nesse filme está perfeito). Afinal, é o sonho de nove entre dez meninos de comunidades carente no país se tornar um jogador de futebol famoso e enriquecer. É a única forma, em muitos casos. Dario é um menino de dezoito anos, que tenta a todo custo ser percebido pelos olheiros que fazem teste para seleções juniores dos times paulistas. É bom jogador, mas como diz um dos olheiros, tem 18 anos, enquanto tem mil iguais a ele com 15, que serão contratados antes.

Dinho e Dênis, por sua vez, são os irmãos mais velhos. O mais velho, Dênis, já tem um filho e trabalha com motoboy. Tenta entrar pra carreira do crime, mas não consegue. Dinho, por sua vez, já entrou pra carreira do crime, mas desistiu a tempo. Se tornou evangélico e arranjou um emprego, renegando um passado que não quer mais.

Sem dúvida as personagens de Linha de Passe que mais impressionam são o filho mais novo, Reginaldo, e a mãe dos meninos, Cleusa. Reginaldo, não mais que doze anos, insiste em saber quem é seu pai. Viaja de ônibus todos os dias, procurando dentre os motoristas aquele que tinha vista na foto com sua mãe, em uma garagem de uma companhia de ônibus na cidade. Inconformado pelo silêncio da mãe em relação ao pai, ele chega a matar aulas para andar de ônibus - e aprender também a dirigir. Observando todos os macetes dos motoristas, as marchas, pedindo para ensiná-lo.

Cleusa, por sua vez, Corintiana doente, está grávida do quinto filho, e vive uma vida miserável e sem alegrias. Acostuma-se com esse cotidiano. Se vê ameaçada no trabalho, onde faz de tudo pela patroa, ao ouvir dela que contrataria uma nova empregada para ajudá-la devido a gravidez. Se sente triste ao lembrar dos homens que ficaram para trás em sua vida. se sente feliz ao sentar na arquibancada do Morumbi e ver o seu Corinthians ganhar. Se sente indignada ao ver o filho lhe dar de presente uma bolsa roubada. Cleusa é, verdadeiramente, o retrato de uma mulher sofrida brasileira. Não preciso nem falar de sua interpretação, acho que dispensa comentários.

O filme se chama Linha de Passe, um título que lembra o futebol do filho de Cleusa. Porém, a linha de passe também é a linha que separa sua família de outros problemas mais sérios da comunidade onde vivem (drogas, violência, bandidagem). Outra alusão ao nome seria ao cotidiano da família, que a cada dia, "passa a bola" um ao outro, se ajudando ou levantando o outro.

Para terminar, não tem como não se emocionar com a cena final de Reginaldo (eu não costumo contar final de filme, mas apenas dessa personagem farei). Escondido no banco de um ônibus, ele se aproveita do motorista não tê-lo visto e saído do carro na garagem e dá partida. Reginaldo busca sempre uma resposta, e parece que com aquele ônibus, viajando livremente, ele vai buscar as suas respostas. E o filme Linha de Passe é isso. Mais do que um filme que relata o cotidiano duro de uma família, ele mostra que cada um da família, do seu jeito, está buscando as respostas para uma vida melhor e que faça sentido.

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