domingo, 25 de julho de 2010

Tudo pode dar certo (Whatever works)



Um filme de Woody Allen é sempre um filme de Woody Allen. E é muito difícil fazer uma crítica de Tudo pode dar certo porque o último filme que vi dele foi Vicky Cristina Barcelona. Filmaço. E um dos filmes que está no “top 10” da minha lista de filmes preferidos é A Rosa Púrpura do Cairo (fantástico). Bom, o que me chama a atenção nos filmes de Allen é a agilidade dos roteiros e diálogos em seus filmes e a sua capacidade de contar histórias de relacionamentos – dos mais simples aos mais conturbados. E aí está a graça em seus filmes, pois nenhum relacionamento é perfeito, e a fantasia criada por Hollywood de “felizes para sempre” com certeza não cola para Allen.

Também não sou muito fã de cinema “explosão”. Estou longe também de querer ver só filmes europeus ou de pequenos circuitos. Adoro o cinema americano – mas o cinema inteligente, independente, das novas ideias, de roteiros incríveis. Allen transporta para seus filmes uma aura de simplicidade, com pitadas de comédia e reflexões sobre a vida, mostrando que o ser humano é muito complexo quando se trata de seus sentimentos. Os relacionamentos são complexos e as pessoas tem uma capacidade de metamorfose durante a vida que impressiona. E é isso que Allen faz, mostrar essa metamorfose. Bom, vou parar de devanear sobre Woody Allen e falar um pouco sobre o filme.

Tudo pode dar certo é um desses filmes que faz você refletir sobre a importância dos relacionamentos, mesmo aqueles que você acha que nunca poderiam dar certo, acabando com diversos estereótipos sociais existentes. Ele conta a história de Boris Yelnikoff, um ex-professor de física e "quase ganhador do prêmio nobel", como gosta de dizer, que vive recluso em um apartamento em Nova York e passa os dias ensinando xadrez para crianças. Ou melhor, torturando criancinhas que querem aprender xadrez. A personagem de David tem poucos amigos, reclama muito da vida pois não vê mais sentido no universo e como ele funciona, tenta se suicidar num plano que não dá certo e não crê mais em muitas coisas no mundo, somente em que ele é um local de meros acasos.

Numa bela noite em Nova York (chuvosa e fria, é claro), Boris conhece Melody Saint'Ann Celestine (adoro o humor do Woody Allen :P), uma jovem da Louisiana com cerca de dezoito anos e pouco afeita ao ensino, e a abriga depois de muita insistência em sua casa. A convivência com a menina, que Boris acredita ser o oposto de tudo aquilo que ele já viveu em um relacionamento, o faz questionar sobre as chances deles, de origens totalmente opostas e estilo de vida totalmente diferente, se encontrarem, e acaba percebendo isso como um "sinal", como se o universo tivesse uma capacidade incrível de criar acasos. Na verdade, Boris acaba se afeiçoando a ela, que apesar de toda a falta de conhecimento em física e discussões sobre a relatividade, ri do que Boris fala, ouve e repete suas teorias e aceita as crises de pânico e o TOC que Boris desenvolveu durante a vida.

Tudo pode dar certo trata justamente do inesperado, do novo e da revitalização da vida de Boris - que ele achava que já estava praticamente acabada. Não importa se os relacionamentos são entre pessoas opostas, complicadas ou com idades muito diferentes (bom, não vou comentar muito sobre isso, além de que aqui mais uma vez Allen faz um auto-retrato dele, vide seu relacionamento com sua enteada), eles podem acontecer apesar de todas as leis da física, como diz Boris, dizerem que nunca vão.

No papel de Boris Yelnikoff está Larry David, roterista da série Seinfeld e protagonista da sua própria série Segura a Onda (Curb Your Enthusiasm). Com humor ácido e duvidoso, aparentemente muitos torceram o nariz ao vê-lo protagonizando um filme de Allen, mas Allen queria justamente alguém que tivesse semelhanças com Boris, mesmo que no filme a personalidade dele seja bastante exagerada. No papel de Melody, Rachel Evan Wood, atriz que despontou na adolescência por fazer o filme Aos Treze e ficou mais conhecida pelo papel em Across the Universe (que acho incrível – um musical com músicas do Beatles, podia ser mais genial? :D) e atualmente pela atuação em True Blood.

A partir do encontro de Boris e Melody e da construção de seu relacionamento, outras pessoas surgem nas suas vidas- a sogra, o sogro e um jovem interessado em Melody. E assim é construída a trama de Woody Allen, cheia de reviravoltas e com muito bom humor. Enquanto sua mãe tenta empurrar o jovem galã para a filha, ela mesma começa a rever seus relacionamentos e se interessar em ser ela própria. Melody, por sua vez, é uma jovem determinada e alegre que também amadurece durante o filme e ganhando a confiança e admiração de Boris e sua mãe.

Tudo pode dar certo , ou pela tradução literal, “o que funcionar” em inglês, é um filme para se refletir sobre a natureza dos relacionamentos e mostra que muitas vezes não há muitas explicações, previsões, leis que regulem o amor – simplesmente ele existe e você pode ser surpreendido quando menos espera.

(Talvez me falte um conhecimento maior de Allen para falar sobre sua psiquê, sua relação com as personagens e seu estilo de filmagem, mas para quem se interessar, aqui está uma excelente crítica do filme http://profepedro.wordpress.com/2010/03/14/tudo-pode-dar-certo-whatever-works-woody-allen-2009/ . Como disse antes, esse é apenas um blog sobre as impressões dos filmes que vejo e que eu acho que vale a pena pensar sobre).

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