domingo, 11 de julho de 2010

Soul Kitchen (Soul Kitchen)




Vi esse fim de semana dois filmes difíceis de se fazer a crítica. Talvez porque tenham uma estética diferente ou uma história pessoal e com um tema árduo.

Bom, o primeiro, Soul Kitchen, é um filme alemão de Fatih Akin, diretor de origem turca o qual os outros filmes ainda não vi, mas pelo que li, me parece que têm uma temática bem diferente dos primeiros. Uma coisa que me chamou a atenção e que eu também li nas críticas: a questão dos conflitos culturais, presentes no papel de Zinos (Adam Bousdoukos), o dono de origem grega do restaurante que tem como tema a música soul dos anos 1970, e que tem pouco a ver com o jeito alemão sério e erudito (tanto o restaurante quanto o próprio Zinos).

Zinos Kazantsakis é a personagem principal da história. De família imigrante grega e casado com uma alemã de família tradicional, logo no início da trama é forçado a ir a um almoço com a matriarca da família e mais suas dezenas de primos e tios. Dono do restaurante inspirado na música que tanto gosta, Zinos o toca como uma pequena lanchonete que serve a comida mais tradicional, enlatada e sem graça possível, e tem um público cativo. Todos os dias, sua rotina é igual e ele conta com a ajuda de Lucia e do barman Lutz, que tocam o restaurante que fica à beira do rio em Hamburgo, num velho galpão gigantesco.Nos fundos do galpão mora Sokrates, um idoso grego que vive reclamando de tudo - e pegando no pé de Zinos, principalmente.

Com a namorada indo embora para ser correspondente em Xangai , Zinos começa a ficar de "saco cheio" da sua rotina, e decide ir morar com a namorada. Porém, não pode deixar seu restaurante, mesmo que seja um "pé sujo", sozinho. Seu irmão, que acaba de sair da prisão, poderia tocá-lo, mas deixar o local nas mãos de um apostador compulsivo não seria uma boa ideia. O herói da história ainda sofre com um problema de hérnia que o deixa mais estressado do que geralmente o é. Acaba conhecendo assim duas personagens que vão se interessar pela Soul Kitchen mas por motivos diferentes: Thomas Neumann (Wotan Wilke Möhring), um especulador imobiliário que só está de olho no galpão, e o chef prestigiado mas com temperamento "cáustico" Shayn Weiss (Birol Ünel). Este ensina Zinos, ao longo da trama, a cozinhar com "alma", que era aquilo que Zinos acaba descobrindo que precisava para o seu restaurante.

Bom, críticas à parte, Soul Kitchen me causou estranheza pelo fato de não ser uma simples comédia (mas também eu não esperava só isso de um filme alemão, apesar de conhecer pouco a estética, o humor é bem mais contido e direcionado), não é um simples filme de aventura, apesar de parecer em certos momentos um thriller contando as desventuras do herói anti-herói, Zinos, e também não é um filme que se assemelha aos do gênero sobre cozinha ou a arte de cozinhar (cujo melhor filme é um que vi há muuuuuito tempo, Comer, beber e viver, do Ang Lee - antes dele ficar famoso por Tigre e o Dragão e Razão e Sensibilidade). Acredito que na verdade ele mistura um pouco de tudo e é original, porque não segue uma lógica que geralmente nós teríamos ao ir ao vê-lo.

Há que se dizer que na verdade, o restaurante ganha "alma" com a vinda do novo chef e com a ajuda dada pelo irmão de Zinos e pelos seus ajudantes, mas somente Zinos garante a alma do lugar, apesar de lutar de certa forma durante o filme contra o fato que de sua esposa ter ido para Xangai e ele não poder ter ido. Zinos também volta a "ganhar sua alma", esquecida pela rotina, com a música que tanto gosta (e convenhamos, também não nos lembra nem um pouco música tradicional alemã nem o estilo de vida alemão) e com a comida que nunca soube fazer mas tem a oportunidade de aprender com o famoso chef contratado.

É claro que existe ainda toda uma discussão em relação à estética do filme, ambientado em Hamburgo e numa região portuária que está se revitalizando, mas eu não manjo muito disso. Aconselho a lerem essa crítica que é bastante pertinente ao assunto:

http://omelete.com.br/cinema/critica-soul-kitchen/

Soul Kitchen é isso, um filme original sob um olhar estrangeiro (isso é importante, os dois roteiristas são Fatih Akin, o diretor, e Adam Bousdoukos, que interpreta Zinos), que contradiz o tradicional e o novo e com uma linguagem bem inovadora (apesar de ser difícil eu falar sobre isso também, pois não conheço os outros filmes desse diretor. Aliás, ando muito relapsa, há alguns anos atrás eu já o teria visto no Festival de Cinema do Rio ou nas salas do grupo Estação). No final, sentimos que a epopeia de Zinos valeu a pena, afinal, ficamos com uma vontade de comer em um restaurante como o dele, com sua própria alma e com muito ritmo.

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