quarta-feira, 14 de julho de 2010

Flor do deserto (Desert flower)


Um cenário árido e ao mesmo tempo colorido pelas burcas femininas voando pelo deserto. Assim começa o filme Flor do Deserto, baseado na biografia da supermodelo somaliana Waris Dirie. Flor do Deserto conta a história de Waris desde o momento em que ela deixa sua tribo nômade no interior da Somália até alcançar o sucesso nas passarelas na década de 1980.

Diversos filmes biográficos contam histórias sofridas e da longa caminhada até a fama. Muitos acabam mal, outros bem. Lembro bem de uma biografia que gostei muito, Gia, também baseado na história da modelo de vida errática e viciada em drogas, que acaba pegando Aids e se torna uma porta-voz também da doença na década de 1980 (filme da HBO e primeiro destaque da carreira de Angelina Jolie). Flor do Deserto não é diferente, a heroína passa por uma longa caminhada de sofrimento e auto-descobertas durante todo o longa, até alcançar a felicidade.

O que marca o roteiro do filme é o drama pessoal vivido por Waris não somente em busca da fama ou de uma vida melhor na bucólica Londres no início da década de 1980, mas também do seu sofrimento devido à mutilação genital que passou, costume comum na Somália e em alguns outros países de origem muçulmana. Waris Dirie ficou conhecida por ter denunciado costumes extremamente tradicionais e pouco discutidos no mundo árabe e hoje é porta-voz da ONU na luta contra a mutilação feminina.

Waris sofreu também um grande conflito interno, mostrado no filme, de ter uma origem muçulmana e uma criação rígida e se abrir aos poucos à uma vida ocidentalizada, estrelando campanhas onde desfilava semi-nua, deixando o véu e a burca de lado. Chegou a fazer tratamentos médicos com médicos homens, algo impensável para os muçulmanos mais ortodoxos. Essa mudança não foi fácil e é neste ponto que o filme se torna um retrato fiel e bem direcionado dos conflitos de Waris. Não é somente a vida de princesa que é focado ou o sofrimento pela mutilação, mas todos os passos que a levaram a mudar sua forma de viver e pensar o mundo.

A também modelo Liya Kebede faz - e muito bem, diga-se de passagem - o papel de Waris. De origem etíope, com certeza ela é uma pessoa facilmente identificável com Waris e alcançou o estrelato também no mundo da moda pela sua beleza ímpar. O filme é praticamente Lyia, e Lyia consegue segurar esse papel de forma sublime, o que é muito difícil para uma atriz que está começando no ramo. É claro que a beleza a ajudou; porém, ela conseguiu se transformar na Waris confusa e na Waris determinada, de uma forma muito delicada.

Flor do Deserto é um drama e portanto, quem for mais emotivo pode ir preparando os lencinhos para ir no cinema. O tema é social e árduo, como já havia dito, mas como qualquer heroína do cinema, Waris consegue alcançar sua felicidade e se tornar uma pessoa com voz, levando ao mundo todo os conflitos que muitas mulheres vivem até hoje em algumas partes do mundo e que nem sempre são discutidos - ou conhecidos.

Um comentário:

  1. Prezada Fernanda,

    Primeiramente parabenizo por seu olhar analítico sobre todo o contexto que envolve esta produção. Aproveito para concordar com relação a história de GIA, que também me tocou muito e trouxe a tona uma bela discussão sobre drogas e conquistas. EXCELENTE.

    Gostaria de convidá-lo a olhar o blog que desenvolvo hoje com meus colegas de sala da Universidade Presbiteriana Mackenzie, temos em mente desenvolver um artigo científico abordando as principais questões dos valores culturais árabes e assim desenvolver discussões que possam levar esse assunto mais pra frente.
    Se puder contribuir com seu parecer sobre o assunto ou fontes diversas que falem sobre o assunto, agradeço antecipadamente pela atenção.

    Abraços,

    Lara Branco e equipe.

    ResponderExcluir