domingo, 6 de setembro de 2015

Para sempre Alice (Still Alice, 2014)

Ontem vi um filme que estava querendo ver há um tempo. Still Alice, em inglês, ou Para sempre Alice, é um filme dramático que é triste e, ao mesmo tempo, nos faz compreender com bastante profundidade o drama das pessoas que têm Alzheimer. Ou seja, por mais que seja triste, é um filme "must see", que devemos ver, não só pela sua história tocante e realista mas como pela atuação de Juliane Moore que é brilhante no longa.

Juliane Moore é a estrela de Para sempre Alice
Para sempre Alice conta a história de Alice Howland, uma professora de linguística da prestigiada Columbia University que tem uma vida muito boa, ativa, dezenas de artigos e livros publicados, um marido que é professor na mesma universidade com quem tem um relacionamento perfeito, e três filhos crescidos. Tudo está indo bem, ou "normal" na vida de Alice, até ela ter apagões, esquecer nomes, lugares, objetos. Ao procurar um neurologista, descobre que tem Alzheimer precoce, um tipo raro da doença que acomete milhares de pessoas no mundo. A partir daí começa a jornada de Alice de auto-descoberta, na busca por respostas para sua doença e de como lidar com ela.

O longa trata, assim, do drama de pacientes com Alzheimer que têm uma jornada dura de esquecimento de pessoas, de forma degenerativa e gradativa, até muitas vezes esquecer-se de tudo e de todos. Como fazer para manter a sua qualidade de vida? Como fazer para compartilhar boas lembranças ou curtir os entes queridos quando você não consegue mais se lembrar quem é ou quem são eles? E como a família faz para superar a tristeza de perder aos poucos as conversas, memórias compartilhadas, com o ente querido?

Moore e Alec Baldwin, em uma atuação comovente
Claro que todos conhecemos a doença, mas creio que só quem passou por esta experiência com um ente sabe a luta que é conviver com ela. Nunca aconteceu comigo, mas relatos de amigos, informações na internet, além de artigos jornalísticos nos faz ter apenas, creio eu, uma ideia, um relance do que é conviver com pessoas que tem a doença. A luta por tentar criar mecanismos de lembranças, e principalmente, para não se perder e esquecer quem é, se torna uma luta pessoal de Alice.

O longa retrata o drama de forma muito aberta, para falar a verdade, mas muito delicada. O drama de Alice é o drama de muitas pessoas, e ela conscientemente sabe o que vem pela frente. Criar os mecanismos de lembrança, seja com lembretes, com mensagens de celular, buscando voltar a locais do passado, vendo vídeos, são formas de manter viva a Alice que ela se lembra. Mas, como toda pessoa consciente de sua doença, ela sabe que o dia em que não se lembrará de mais nada irá chegar. E nós, os espectadores, também percebemos isso gradualmente na trama.

Alice em uma das suas aulas
A direção de Para sempre Alice ficou a cargo dos seus próprios roteiristas, Richard Glatzer e Wash Westmoreland. Glatzer faleceu dias após a cerimônia do oscar. Ele sofria de esclerose lateral amiotrófica, doença que paralisa membros e como Alzheimer, é degenerativa. Alguns críticos dizem que Glazer tentou mostrar a perspectiva dos que sofrem com Alzheimer a partir do seu próprio drama pessoal. Outros que o roteiro estava pronto quando ele descobriu a doença, que acabou que ele se dedicasse mais ao projeto devido à rapidez da doença. De um jeito ou de outro, a delicadeza e o realismo presentes no filme ao mesmo tempo se devem tanto ao roteiro fiel dos autores em relação à doença retratada no longa, como pela atuação dela, especialmente, que está perfeita no papel. 

O filme conta ainda com a participação de Alec Baldwin como John, o marido de Alice, Kate Bosworth como Anna e Kristen Stewart como Lydia, filhas da personagem. O destaque está para Kristen, que se torna a filha mais presente durante a doença da mãe, apesar de claras divergências entre as duas mostradas no início do longa. Porém, creio que os personagens da trama são simplesmente arrebatados pela performance de Moore, que merecidamente levou o Oscar de melhor atriz neste ano pelo longa.

Kristen Stewart faz a filha mais nova de Alice, que se aproxima dela na doença
Para sempre Alice é, para mim, um filme dramático bem escrito, bem dirigido, bem feito, e mais que tudo, um filme importante. Importante porque retrata o cotidiano de pessoas que sofrem de uma doença que ainda é tratada como "demência" por muitos, ainda pouco conhecida por quem não a vivenciou em parentes, e esquecida por acometer pessoas com mais idade. Este não é o caso de Alice, ainda nos seus cinquenta anos, mas também não importa a idade que a doença se desenvolve. É importante tratá-la desde o início e compreendê-la com humanidade. Um filme tem um alcance incrível ao relatar dramas sociais, e neste caso, Glazer e Westmoreland conseguiram dar voz a milhares de pessoas com a doença, médicos, parentes e amigos de pacientes com Alzheimer, que não são compreendidos pelo mundo afora. Neste sentido, Para sempre Alice é fundamental para nos conscientizar da necessidade de se entender as pessoas que sofrem de Alzheimer com um pouco mais de clareza e, principalmente, humanidade.

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