sexta-feira, 14 de março de 2014

12 Anos de Escravidão (2013)

Talvez eu esteja muito ligada à minha profissão, e não consegui ver o filme com olhos apenas de espectador. De fato, fiquei analisando o realismo e a veracidade dos acontecimentos do longa, pois é uma coisa que faço geralmente com filmes históricos. Vi 12 anos de Escravidão e gostei - mas não o achei sensacional ou atual. 

Escravos no mercado em Alexandria, VA
 (maior mercado de escravos dos EUA)
Excelentes atuações, especialmente de Chiwetel Ejiofor, que interpreta Solomon Northup, e de Michael Fassbender, que faz o dono de escravos Edward Epps. Porém, ouvi comentários de pessoas dizendo que ficaram chocadas e o acharam extremamente pesado. Eu particularmente não achei. Uma cena ou outra, mas no geral, o filme me pareceu ser aquilo que o roteirista propôs ser: realista. 

Não há novidade nenhuma nas cenas de terror psicológico, físico, castigos e outros infinitos tipos de tortura possíveis efetuadas em escravos ao longo da vergonhosa história do trabalho no novo mundo. Acho que o longa traz indignação a muitas pessoas, mas o realismo retratado já deveria estar presente no imaginário da população. São décadas e décadas de trabalho de historiadores e professores para mostrar que a escravidão foi uma realidade cruel, foi um sistema complexo se pensarmos na objetificação de seres humanos (em sociedade religiosas cristãs) e trouxe consequências terríveis até os dias atuais, que são o preconceito racial e a desigualdade social. 

Chiwetel Ejiofor, interpretando Northup em uma fazenda produtora
de algodão na Louisiana

Algumas cenas são bem interessantes, como o diálogo entre o carpiteiro canadense (Brad Pitt, produtor do longa) e Epps sobre liberdade de escolha e o mal social da escravidão, um adotando a visão clássica escravocrata e outro a visão liberal. Nao foi pra mim muito verídica, pareceu algo bem didático, inserido por Steve Mcqueen por achar necessário. Outra parte interessante é a relação de Patsy com a esposa de Epps, que a invejava, mas nada podia fazer contra a preferida do marido, e Patsy com a vizinha, casada com o seu dono, que se torna ela mesma dona de escravos, outro fato bastante relevante se pensarmos na escravidão como parte de um sistema social naturalizado. 

Lupita Nyong'o que interpreta Patsy (a fotografia
do filme é incrível)
Mas 12 anos tem seu mérito: insiste, na verdade, persiste em mostrar algo que deve ser relembrado constantemente. Que venham outros filmes então. Não vejo o filme como o melhor e mais emocionante dos últimos tempos no cinema, mas o vejo particularmente como um filme realista e relevante, que serve pra levantar, mais uma vez, o debate sobre as consequências do mal escravocrata em sociedades ocidentais, como a nossa. 

Destaque para a fotografia, figurino (o jogo de cores é deslumbrante) e a direção do filme, acho que estão sensacionais. E Anima Cris, concordo com você, talvez escolhesse outros filmes para trabalhar em sala. Mas este serviria como bom exemplo de uma biografia de tristeza e de luta, que tem um final relativamente feliz (pois Northup jamais será o mesmo), com algumas cenas bem interessantes de trabalhar. No caso de milhões de escravos que nunca experimentaram a liberdade, o final não foi tão feliz assim.

Michael Fassbender e Chiwetel Ejiofor, dono e escravo que
contracenam nas cenas mais tensas do filme
(Publicado em 09.03.14 no facebook)


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