domingo, 24 de julho de 2011

Meia-noite em Paris (Midnight in Paris)



O filme Meia-noite em Paris é uma agradável surpresa. Woody Allen é conhecidamente um autor que faz filmes bem distintos da indústria de cinema, simples, com diálogos deliciosos e uma análise psicólogica das personagens - em uma própria releitura dos seus pensamentos. Sua cidade natal, Nova York, deixou de ser cenário exclusivo de seus filmes há muito tempo, desde que ele decidiu utilizar incentivos em outras cidades e trazer um diferencial a seus filmes, que incluem a leveza e sensação de novidade a cada lugar que ele retrata. Em Meia-noite em Paris não é diferente, ele retrata a "cidade luz" de uma forma extremamente elogiosa e, claro, mostrando suas belezas, que são inúmeras.

O longa tem sido considerado um dos melhores do autor, que como sempre se sobressai a cada ano com uma novidade que cá entre nós, nos faz ter vontade de ir ao cinema. Já critiquei aqui filmes com efeitos especiais extremos e a falta de roteiros de qualidade no cinema Hollywoodiano. Por isso Allen não é Hollywoodiano - ele se recusa a transformar seus filmes em máquinas de dinheiro. Com poucos recursos, atores que pedem para ter um papel em seu filme - de graça - e com os incentivos das cidades que ele escolhe para filmar, Allen tem total liberdade de falar o que quer, mostrar o lado mais engraçado e interessante de suas personagens sem se preocupar com as críticas. É claro que as críticas são importantes - mas Allen deixou de dar bola para elas há muito tempo. Por isso, é sempre um prazer assistir a um filme de Allen no cinema. E recomendo que todos o façam. Baixar filmes dele...não vale a pena. A experiência do cinema é insubstituível.

O filme retrata a história de Gil (Owen Wilson), um roteirista de filmes na Califórnia que se aventura a escrever seu primeiro romance, devido à mesmice e falta de criatividade que acredita existir na indústria de Hollywood (alfinetada básica). Ele viaja com sua noiva e os pais dela para Paris, entusiasmado com as possibilidades de talvez convencer sua noiva a viver em uma cidade que, como ele mesmo diz, pode ser apreciada na chuva, onde é possível carregar uma baguete debaixo do braço, conversar em bistrôs com estranhos ou simplesmente sentar em um café e apreciar o ar nostálgico e "respirar história". Sua noiva, Inez (Rachel McAdams), por outro lado, sonha comprar uma casa em Malibu, quer que Gil ganhe dinheiro escrevendo roteiros para a indústria de cinema e não suportaria viver numa cidade como Paris. Nesse ambiente de tensão entre as duas personagens, Gil tenta finalizar seu primeiro romance, usando como referência autores americanos consagrados na literatura e que viveram a intensa atividade cultural da década de 1920 em Paris - cidade que abrigou artistas, intelectuais, cantores, e promovia uma cultura inovadora nos chamados "anos loucos" ou "era do jazz".

Cansado dos passeios de compras e culturais com o amigo "pseudo-intelectual" de sua esposa (papel de Michael Sheen, outra alfinetada de Allen a pessoas que tem "verborragia" sobre assuntos culturais mas que na verdade pouco entendem em profundidade do assunto), Gil decide passear em Paris sozinho e uma certa noite, uma antigo limusine modelo Ford para em sua esquina e eis que surgem Zelda e Scott Fitzgerald, o convidando para entrar e ir à uma festa. Estupefato, Gil é transportado no tempo e conhece todos os artistas e escritores que tanto admira do período. Conhece também uma jovem amante de Pablo Picasso, Adriana (Marion Cotillard), a qual começa a se interessar.

Maravilhado pelos encontros com Gertrude Stein (Kathy Bates), que gentilmente lê seu romance, e com as conversas com o novo amigo Ernest Hemingway, além da presença de Adriana, Gil começa, cada vez mais, a viver a cidade, a história e a cultura dos anos 1920. Porém, como Woody Allen bem mostra, o futuro de Gil não está no passado, mas sim naquilo que ele trilha no presente - seu relacionamento com Inez, sua vida como roteirista nos Estados Unidos e sua visão de mundo compartilhada com os novos amigos parisienses.

Meia-noite em Paris é uma história leve, porém que de despretensiosa não tem nada, sobre a vida e as decisões que tomamos - e como em um rápido segundo tudo pode mudar. É inevitável que lembremos da Rosa Púrpura do Cairo, filme de realismo fantástico também de Allen, cuja personagem de Jeff Daniels também se chama Gil. Através da personagem principal de Meia-noite em Paris, Woody Allen pode ser nitidamente percebido. A incorporação de seus trejeitos e forma de falar, cuidadosamente trabalhado pelo Owen Wilson, personagem principal, é impressionante. Talvez, este seja o melhor papel de sua carreira. Rachel McAdams, excelente atriz, está ótima no papel da noiva impaciente e mimada de Gil. O filme conta ainda com pequenas mas marcantes participações de atores como Kathy Bates, Adrien Brody, Marion Cotillard e até mesmo Carla Bruni, que ganhou um pequeno papel no longa (pequeno mesmo - e dispensável também).

Meia-noite em Paris, como a maioria dos filmes de Allen, nos deixa feliz ao sair do cinema, esperançosos com os caminhos que a vida nos proporciona e com uma vontade muito, mas muito forte, de visitar a bela cidade que merecidamente foi escolhida como parte, e não apenas como cenário, de seu filme.

Um comentário:

  1. Adorei seu comentário sobre Meia Noite em Paris. É realmente isto: Woody Allen cada vez mais Woody Allen. E Paris cada vez mais linda!

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