domingo, 21 de novembro de 2010

À moda da Casa (Fuera de Carta)



Nada melhor que alugar alguns filmes para passar o tempo, principalmente quando você está gripada e sem vontade nenhuma de sair. Neste fim de semana, foram dois: Coco antes de Chanel (a crítica vem adiante) e o despretensioso filme espanhol chamado Fuera de Carta, ou em português, À Moda da Casa, de 2008.

O filme nos leva à Madrid e ao restaurante Xantarella, onde Maxi (Javier Cámara), chef da casa, o comanda com braço forte, com o objetivo de ganhar a tão sonhada estrela Michelin dos restaurantes europeus. Maxi é a personagem principal e o guia do filme. Por volta dele se desenvolvem histórias parelelas que nos levam ao ponto principal que é a questão da sexualidade da personagem e sua relação com o passado e o presente. Maxi foi casado, tem dois filhos mas abandonou a família quando assumiu sua homossexualidade, renegando seu passado "obscuro". Por isto, esconde sua família e seu passado. Já seu vizinho, o ex-jogador de futebol Horácio (o chileno Benjamin Vicuña), não revela sua homossexualidade por medo também das críticas da sociedade e dirige uma escola de futebol, criando uma fachada de jogador de futebol com várias namoradas comum hoje em dia.

No filme, as duas personagens funcionam de forma inversa: Maxi é homossexual declarado mas tem vergonha de demonstrar seu passado "tradicional", seu casamento e seus filhos e carrega bem a imagem do chef de cozinha estourado e gay. Já Horácio não consegue se declarar como Maxi, e tenta sair com mulheres para manter uma imagem diferente da sua preferência sexual.

O momento em que as duas personagens se cruzam é o momento de mudanças na vida dos dois. Horácio se muda para o apartamento ao lado de Maxi e eles começam a sair e a amiga e maitre de Maxi, Alex (Lola Dueñas) se interessa também pelo jogador, o que gera algumas situações "pastelão" na trama. Ao mesmo tempo em que a vida amorosa de Maxi, que é um workaholic, começa a mudar, ele é incumbido de criar seus filhos após sua ex-esposa falecer de câncer. Alba é uma menina de sete anos e Edu um menino de quinze, e apesar de Maxi tentar desenvolver seu lado paternal, ele tem que encarar os problemas de aceitação do filho, que o enxerga como o homem egoísta que o abandonou na infância.

Com estas histórias e personagens parelelos, a comédia se desenvolve de forma leve mas em torno de uma questão importante, que é a categorização das relações na sociedade. Da mesma forma que o preconceito em relação ao homossexualismo é forte, as pessoas se divertem com o estereótipo afeminado presente hoje em basicamente todas as novelas que mostram personagens homossexuais. Por outro lado, o filme mostra duas personagens gays que são complexas, não colocando-as no "mesmo saco" presente na mídia hoje. Um jogador de futebol, discreto, sério, masculinizado, e um chef de cozinha workaholic, pai de dois filhos e homossexual assumido. Maxi, na verdade, aprende na história a lidar com dois mundos que parecem muito distantes, mas não são.

O destaque de Fuera de Carta é sem dúvida o ator Javier Cámara, que interpreta o chef de cozinha. De forma ágil e delineando bem sua personagem, ele consegue retratar perfeitamente a personagem e carrega outros atores juntos, como o próprio Benjamin Vicuña. Os atores que fazem "escada" para sua personagem, Lola Dueñas e Fernanda Tejero (Ramiro)também o fazem bem, mas nada ofusca o brilhantismo de Javier, que rouba todas as cenas.

O filme é agil, às vezes rápido até demais, o que dificulta a leitura de legendas e torna quase impossível para quem não fala e entende bem espanhol acompanhar); é uma comédia, portanto não toca nestes assuntos discutidos acima de forma aprofundada, mas de forma despretensiosa e pode ser encarado como uma boa diversão para quem está a fim de ver um filme que trata de situações do cotidiano e da vida moderna, focando naquilo que é essencial em qualquer filme, as relações humanas.

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