domingo, 18 de janeiro de 2015

Boyhood (2014)

O Oscar está chegando e alguns filmes concorrentes começam a estrear nos cinemas nacionais. Na verdade, já faz cerca de um mês que Boyhood estreou mas eu só consegui ver agora. O filme, que conta a história de um menino que cresce sob os olhos do diretor, equipe e espectadores com o passar dos anos, já ganhou os principais prêmios do Globo de ouro e mais uma série de prêmios mundo afora. Boyhood, na verdade,  é um filme sobre o cotidiano e a vida familiar de um menino que se torna adulto, e pela sua originalidade e simplicidade se tornou o grande vencedor de festivais de cinema.

Ellar Coltrane na cena inicial do filme - com seis anos
Já faz muito tempo que Hollywood busca alternativas para melhorar sua indústria, que saturou por um bom tempo após blockbusters ou grandes produções deixarem a desejar no quesito qualidade de roteiro. Em compensação, filmes com assinatura, seja de atores ou diretores, têm se tornado filmes cada vez mais destacados na imprensa e nas críticas, trazendo uma alternativa à falta de originalidade do cinema nos anos 1990. Essa "absorção" de diretores de cinema independente já acontece há bastante tempo - uns quinze anos, e é justamente quando Richard Linklater começa a filmar a história de Mason (Ellar Coltrane), um garoto texano que mora com a mãe divorciada e a irmã mais velha e vive as desventuras de uma infância normal, mas claro, com problemas e descobertas.

Patricia Arquette interpreta - muito bem - a mãe de Mason e Samantha
Richard Linklater é um diretor bastante conhecido devido ao seu primeiro filme de sucesso - independente - e que contou com diversos prêmios em festivais de cinema: Antes do Amanhecer. Antes um filme desconhecido pela maior parte do público, e especialmente "chato" para os padrões hollywoodianos, pois retrata dois jovens se conhecendo em uma viagem na Europa e conversando todo o filme, Linklater começou a se tornar "queridinho"  na mídia após fazer o Antes do pôr-do-sol e Antes da meia-noite (que eu particularmente achei "mais do mesmo") e se tornar justamente um diretor original, vindo de uma corrente de cineastas independentes dos anos 1990. Sua assinatura é fazer roteiros com diálogos intensos e filosóficos sobre a vida, com a simplicidade de duas pessoas conversando num fim da tarde em um barzinho, ou discutindo os rumos da vida em uma reunião de amigos.

A fórmula deu certo, e tornou seus filmes muito mais interessantes que as sequências de explosões ou corridas de carros de concorrentes. É claro que Hollywood não se resume a isso - e hoje os roteiristas da indústria do cinema são disputados constantemente pelos estúdios, que buscam cada vez mais inovação como fórmula do sucesso. E com certeza Linklater foi original e inovador em Boyhood - e por isso merece ganhar todos os prêmios que ganhou até agora com o filme.

Ethan Hawke e Ellar Coltrane já um pouco mais velho

Boyhood conta a história de Mason dos seis aos dezoito anos. É muito interessante ver as mudanças que o menino passa em sua vida e os problemas que aguenta calado, por simplesmente não saber lidar, em cenas cotidianas mas que nos fazem nos sentir como ele, sozinho e amargurado. Separação de pais, falta de compreensão da mãe e da irmã, se mudar e perder o círculo de amizades que conquistou com muita dificuldade e ver a puberdade nascendo, com encontros inesquecíveis mas escassos com seu pai, que é a figura masculina no qual ele se ampara.

Mason e sua mãe - já adolescente
O filme tem sim um roteiro ótimo, que nos envolve na trama e nos faz identificar ou gostar mais ainda dos personagens - a mãe trabalhadora, o menino que tem dificuldades de se relacionar, o pai que "fracassa" ao não ter um emprego dos sonhos ou conseguir sustentar sua família, uma família que constrói seus laços com o tempo, respeito e compreensão. E isso tudo faz parte do cotidiano de tantas famílias, e do nosso próprio cotidiano familiar, que nos relacionamos com o tema.

O longa não tem nenhum momento "auge": ele apenas mostra o crescimento de Mason e seus relacionamentos com o tempo. E é incrível ver como o menino e sua irmã crescem e mudam fisicamente com o passar dos anos. Por outro lado, Patricia Arquette muda também, Ethan Hawke muda também, mas não é nada que não tenhamos visto com boas maquiagens, até porque as mudanças da puberdade são assustadoras, enquanto as da vida adulta vêm com mais serenidade. Além disso, todos viram Ethan Hawke mudar em seus vários filmes feitos nos últimos doze anos e Arquette mudar também em Medium, seriado que protagonizou entre 2005 e 2011.

Ellar Coltrane já adulto - com 18 anos
Boyhood merece ser visto - e merece ganhar todos os prêmios que ganhou. Em uma época em que roteiristas bons e originalidade são difíceis de achar, Boyhood nos brinda com um belo roteiro e uma reflexão de que "a vida não basta ser vivida"; é necessário ter sonhos, aspirações, desejos e motivação. E o longa mostra  que a vida é simplesmente um pouquinho de tudo isso.


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