sábado, 19 de novembro de 2011

A pele que habito (La piel que habito)




Vi recentemente o novo filme do Pedro Almodóvar, A pele que habito, com Antonio Banderas, Marisa Parede e Elena Anaya. Gostei muito, explicarei por quê.

A pele que habito é o novo filme do diretor que segue uma linha bem diferente dos seus últimos longas, muito mais dramáticos e sentimentais do que este. Este é um suspense que chega a um ápice um tanto quanto chocante, recheado de cenas enigmáticas e de sexo, é claro, que fazem o espectador sentir o lado mais vil do ser humano e mais apaixonado também, na pele da personagem de Antonio Banderas.

A história do filme já começa com um suspense, um enigma, que é quebrado ao longo da trama. O cirurgião plástico Robert Ledgard (Banderas) tenta criar uma pele perfeita, que não sofreria ações do tempo e queimaduras. Viúvo e fechado para o mundo, Robert mantém em sua antiga clínica, agora sua residência, uma paciente, cobaia de seus experimentos. Ele vê Vera (Elena Anaya) como sua obra prima. Defensor de novas técnicas de transplante de pele, as quais são proibidas em humanos, Robert esconde em sua grande mansão este segredo: a habitante que sofreu inúmeras intervenções cirúrgicas e que também é a personificação da sua mulher, morta de forma trágica.

O enredo se desenvolve na tentativa do espectador de descobrir, com os constantes flashbacks, de forma pouco linear, quem são essas personagens, se Robert é um grande benfeitor da humanidade, criando uma nova técnica que poderia restaurar vítimas de queimaduras, ou se ele é um crápula que mantém uma paciente como cobaia para fins puramente pessoais e egoístas. Se vocês acham que este é o grande segredo da trama, estão enganados. O filme dá voltas e voltas até você sair da sala "atordoado" com a eloquência da trama, com a relação conflituosa das personagens com elas mesmas, e com a capacidade transformadora do ser humano, como na maioria dos filmes de Almodovar.

Baseado no livro do escritor francês Thierry Jonquet (Tarântula), a ficção, o terror e a mistura de elementos de uma personagem embrutecida pela tragédia (Doutor Robert) e de uma outra, que devido a circunstâncias só esclarecidas no decorrer do filme, se aproxima de Robert, se tornam verdadeiras bombas relógios para o espectador, que espera ansiosamente a resolução do suspense, a explicação para tudo o que ocorre, que se deleita ainda mais com as pequenas dicas e detalhes que o diretor apresenta para desenvolver sua história.

O filme é uma adaptação minimalista, e tem a cara do diretor. Sim, ele é um filme autoral, mas qual filme de Almodóvar não é? Me lembrou muito filmes do início de sua carreira, da década de 1980 na verdade, enfáticos, fortes, com cena após cena mostrando algum movimento brusco, algum elemento forte, uma cor que se sobressai, um diálogo seco e emblemático, cenário marcante, que têm tudo a ver com a estética do diretor.

Li uma crítica (se não me engano do Rubens Ewald Filho) em que o autor dizia que Almodóvar melhorou com o tempo e, por conhecer melhor a estética do cinema, como dirigir os atores, posicionar a câmera e conseguir o enquadramento perfeito, consegue, cada vez mais, se superar. O diretor desenvolve sua trama de forma muito enérgica, e por isso, brilha por trás da mesma. Consegue se sobressair por fazer algo absolutamente diferente do que costuma fazer e, ao mesmo tempo, com elementos comuns e o mesmo impacto que costuma deixar registrado nas telas.

Não dá para contar muito sobre o filme, senão ele fica sem graça. E quem sou eu para contar final de filme. Só recomendo que assistam e depois, se puderem, postem seus comentários, pois cada crítica que li tem um ponto de vista diferente sobre a trama, e sempre interessante. Descreveria o longa como "gutural", outros o descrevem como drama psicologizante. Mas quem sabe, ele apenas lida, mais uma vez, com sentimentos de paixão, ódio, vingança, angústia e sofrimento inerentes ao ser humano, sempre tão bem mostrados pelo diretor? Essa capacidade de fazer refletir e, mais importante, sentir, é algo absolutamente normal no universo do Almodóvar - para nossa felicidade.

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