quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Inverno da alma (Winter's bone)


Inverno da Alma é um dos filmes concorrentes ao Oscar, que você vê que faz parte daquele seleto grupo de películas que são independentes, mas fazem um contrapeso à falta de filmes com roteiros fortes e atuações idem no Oscar.Pois é, a premiação já foi uma referência para o cinema, mas hoje em dia parece que a crise no cinema americano está abrindo espaço para os festivais independentes, como o Sundance, e às premiações europeias, como Cannes e Berlim.

A história de Inverno da Alma é impactante, e aquilo que mais chama atenção logo de início é a caracterização da vida e do local onde moram a personagem principal e sua família, Ree Dolly (Jennifer Lawrence, jovem atriz e já indicada ao Oscar e outros inúmeros prêmios). Ree, seus dois irmãos pequenos e sua mãe que sofre de uma doença mental vivem nas montanhas Ozark, no Missouri, em uma região muito, muito pobre, muito, muito fria e esquecida no meio-oeste americano. Com o pai na prisão por tráfico, eles vivem comendo esquilos e veados de caça, sem eletricidade, e têm apenas as montanhas e sua madeira para salvá-los do frio. Jennifer Lawrence se despe de qualquer vaidade para fazer o suspense, que retrata ela, e somente ela, na busca de seu pai para não perder a casa onde vivem - e a única forma se sobrevivência que conhece.

O problema é que Jessup Dolly, pai da menina, some após sair da prisão e coloca sua casa e o terreno nas montanhas como fiança. Se ele não comparecer ao tribunal, ele perde tudo e por isso Ree busca desesperadamente pelo pai na cidade, passando por personagens medonhos (no sentido literal!) e tristes do universo em que circula. Traficantes, mulheres de traficantes, avôs, primos e tios que a espancam ou a ignoram por ser filha de quem é e perguntar demais. Essa é a rotina de Ree, que persiste, como uma boa heroína, na sua luta para salvar sua casa e seus irmãos.

Baseado numa série de livros que não chegou ao Brasil, Inverno da Alma é mais um dos oito livros de suspense escrito por Daniel Woodrell, em um estilo que - nem sabia - é caracterizado por "country noir", inaugurado aparentemente pelo próprio Woodrell. Me espantei em saber que o filme é baseado em um thriller, porque não parece. O que parece é que, pelo menos nas mãos da roteirista e diretora Debra Granik, ele se transforma no retrato de um região desconhecida e de uma "América" pouco vista fora do país. Bom, não é preciso dizer que os Estados Unidos são um país com um índice de pobreza não tão grande como o Brasil, mas considerável comparado a regiões mais desenvolvidas, e ninguém parece reparar muito nisso, pois estamos acostumados a ver uma "América dourada" em filme Hollywoodianos. Porém, volta e meia é lançado no cenário independente um filme desses, como foi Preciosa, em 2009, que acaba arrebatando prêmios e consagração da crítica.

Não é preciso dizer também que a atuação de Jennifer Lawrence faz toda a diferença. E que, para a idade dela, é realmente interessante o papel que ela escolheu interpretar. Inverno da Alma é sim um drama violento, é sim meio noir, mas o que o difere dos outros é também a delicadeza na forma que Granik mostra o cotidiano desta família. Chega uma certa hora que você não consegue nem mais sentir pena da menina, mas a vê como um mártir na história toda. Há destaque também para John Hawkes, que interpreta Teardrop, o tio dela e irmão de Jessup, e a forma como a relação deles muda com o passar do filme, de tio desalmado para defensor dos sobrinhos. É claro que isso tudo de forma bem discreta, pois o filme não tem atuações com muitas lágrimas. Ele é duro, como o inverno da região de Ozark (parece esquisito falar em delicadeza e dureza, mas o filme passa essas duas características, claro que nas mãos de uma boa direção).

Para quem gosta de ver filmes independentes e com uma temática mais inovadora, Inverno da Alma é uma boa opção. Mas quem não gosta de ver uma história baseada em personagens duros e sofridos, e que não tenha muito "estômago" para cenas fortes, não recomendo. Vai estar perdendo, é claro, um ótimo filme. E eu estou torcendo, mais uma vez, pelo cinema independente no Oscar.

Um comentário:

  1. Vi o filme em DVD. Adorei!!! Riquíssimo em temáticas. A questão social e ambiental podem ser exploradas. Além disso, a solidariedade não deixa de estar presente, mesmo em um ambiente duríssimo, onde as relações se estabelecem pela lei do Talião. O roteiro maravilhoso, a trilha sonora...uma pérola. Valeu a dica! Em tempo, seu blog está cada vez melhor. Bjs

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